quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Caio Blinder sai da Jovem Pan: a imprensa brasileira perde mais qualidade

Os ouvintes da rádio Jovem Pan perderam Caio Blinder. Ele esteve na emissora durante 23 anos. A rádio também demitiu outros profissionais. O jornalista é mais um nome conhecido na onda de demissões na imprensa brasileira e fará falta em um setor que já sofre desmonte há tempos, o jornalismo internacional. Caio é um dos melhores do ramo, além do que, traz suas informações e análises diretamente dos Estados Unidos. É muito bem informado e tem conhecimento histórico, principalmente da política americana, essencial para situar-se no mundo. Outra qualidade importante sua é o cuidado em assinalar fatores culturais na política americana. Seu texto é muito bom e ele sabe fazer o assunto ficar divertido, sem alterar a profundidade necessária não só do conhecimento da política internacional, como de qualquer outra forma de relação humana.

A queda de qualidade do jornalismo internacional em nossa imprensa ocorre já há algum tempo — em 2015 o próprio Blinder saiu do site da Veja, onde ficou cinco anos. A demolição vem de muito antes da popularização da internet. É o que ocorre também com as demissões, cuja relação não é só com o advento de novas tecnologias, ao contrário do que se costuma dizer. É uma política antiga de várias empresas jornalísticas, com um ponto histórico neste caráter destrutivo, que teve até nome: "reengenharia". Atinge televisão, rádios e claro que segue curso na implantação desses veículos na internet. Basicamente, o objetivo é lucrar mais, com menos esforço financeiro e menor interação com o jornalismo, principalmente no que se refere à influência política e criativa do próprio profissional em seu trabalho. Neste aspecto, sempre foi acirrada a disputa nas empresas jornalísticas, no que pode ser resumido como um embate entre o interesse comercial e o jornalismo. Publicações que alcançam um bom meio termo sempre tiveram o melhor conteúdo. Na internet, os sites já começam com as redações por baixo. Não é preciso dizer qual será o resultado, até pelo fato de que hoje em dia a baixa qualidade de conteúdo da internet brasileira já permite ter uma ideia para onde isso pode nos levar.

A demissão de Caio Blinder —sem falar de tantos outros profissionais experientes que se foram do mercado — mostra em parte o andamento da comunicação no Brasil e pode servir também para observarmos graves deformações no comportamento político e cultural no Brasil. Certas reações à sua demissão mostram como vamos mal. A cultura brasileira vem sendo prejudicada bastante pela abertura geral ao internauta de má índole, gente ignorante do que comenta e por isso o mesmo sempre tomados de uma violência impressionante. No geral, claro que não passam de bravateiros, mas o problema é que ocupam os espaços com aquela audácia própria dos que não sabem que nada sabem. E os veículos procuram satisfazer esses bandos. A própria Jovem Pan, por exemplo, tirou Caio Blinder, mas a rádio mantém grupos de jornalistas palpiteiros e de comportamento exótico, que passam horas conversando fiado e estimulando a pauleira.

O risco é que este clima acelere ainda mais o rumo equivocado da imprensa ou até desça ainda mais de nível na qualidade do objetivo. Já tem muito site que em seu formato editorial procurando contentar esse tipo de gente. Existe também uma satisfação da direita, que atualmente parece em maioria na exposição cotidiana de desatinos, mas cabe alertar que o clima de grosserias independe de ideologia. Vale sempre o tom dos que tem mais poder no momento. E isso é cíclico no Brasil. Só não muda a qualidade. A direita anda animada e se comporta exatamente como os petistas faziam no poder. Até comemoram certas demissões, como ocorre nas redes sociais com o fim da participação de Caio Blinder na Jovem Pan. Um problema desses brucutus nativos com o jornalista é que ele é crítico a um presidente que lhes chutaria o rabo na primeira oportunidade: ele mesmo, Donald Trump. Agora a direita solta fogos de apoio à demissão de bons profissionais, da mesma forma que o petismo (que logo depois deu chabu) comemorava quando saía algum jornalista que contrariava o interesse de Lula e seu partido. O estilo é o mesmo: mentiroso, caluniador, difamante. A falta de informação e conhecimento, a grosseria, o mau gosto e a má fé só mudaram de lado.
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POR José Pires

2 comentários:

Unknown disse...

Caio Blinder tem uma analise perfeita em relacao aos Estados Unidos e o boquirroto Trump
Uma pena perde-lo na Jovem Pan. Apesar de morar nos Estados Unidos costumava ouvir seus comentarios com frequencia. Gosto da lucidez e clareza com que analisa e expoe seus comentarios.
Algo de melhor vira Caio!

Unknown disse...

Caio Blinder tem uma analise perfeita em relacao aos Estados Unidos e o boquirroto Trump
Uma pena perde-lo na Jovem Pan. Apesar de morar nos Estados Unidos costumava ouvir seus comentarios com frequencia. Gosto da lucidez e clareza com que analisa e expoe seus comentarios.
Algo de melhor vira Caio!