sábado, 18 de novembro de 2023

Os românticos verões que não saem da cabeça dos publicitários

Não é de hoje a falta de sintonia da publicidade com as reais necessidades das pessoas. Como linguagem, publicidade e realidade não combinam. Mas é pesada demais a alienação dos publicitários com a transformação global que vem alterando o clima, tornando difícil a vida mesmo nas atividades mais simples.  


Fechados em seu universo compactado, chupando ideias uns dos outros, todas de segunda mão, os publicitários entram neste verão com uma antiga visão do que já foi esta estação do ano, quando, em priscas — e bota priscas nisso — eras, tínhamos um período de relaxamento e prazer com a temperatura.  Só que agora estamos em outro mundo. 


Tenho visto muito material de propaganda mostrando pessoas numa satisfação total, aproveitando prazerosamente o verão, com casais, crianças e até mesmo idosos numa alegria invejável, claro que aproveitando para ir às compras nesta maravilha que é o verão.  Só que não é mais assim. Acabei de ver um vídeo com um casal que esbanjava alegria com a temperatura, o que me trouxe uma dúvida à cabeça, sobre o planeta de onde vinham aqueles dois.  


Ora, o doce casal é do planeta dos publicitários. Ninguém suporta mais o calor que está fazendo, além de que as altas temperaturas se relacionam com ventanias assustadoras, chuva em excesso destruindo tudo ou a água faltando até para manter o jardim, tudo isso trazendo um sentimento de que este verão calorento demais poderá ainda dar saudades, comparado ao que pode acontecer logo mais com o clima no planeta.  


Mas, em meio a esta realidade atordoante que parece um sobreaviso  de coisas piores, a publicidade nos brinda com a repetição de jargões mais que gastos, fórmulas antigas na contínua exaltação sem fundamento para as vendas de verão.  


Só que desta vez a realidade deu uma trombada destrutiva na falta de percepção dos nossos publicitários. Eu, se fosse dono de empresa, mandava desligar o ar condicionado do departamento de criação. E iria demitindo, um atrás do outro, aqueles que não entendessem a mensagem.

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Por José Pires

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