sexta-feira, 17 de julho de 2009

Abraço entre iguais

Um leitor, que também é meu amigo, me telefona e pergunta indignado o que achei de ver o Collor e o Lula abraçados. Fui rápido na resposta: o Collor nunca desceu tanto.

Rimos bastante e acho que ele concorda que desarmei rápido uma conversa que poderia se encaminhar para lamentos sobre a queda moral da nossa política. Bem, em questões morais Lula já bateu o traseiro no fundo do poço há muito tempo.

Pode parecer uma ironia, mas a verdade é que o agora senador Collor de Mello realmente reuniu nos últimos tempos bem menos falcatruas que o presidente Lula. Foi até por falta de oportunidade, mas não deixa de ser um fato que desde sua queda da presidência da República Collor aprontou pouco, bem pouco, comparando com Lula que tomou a vanguarda no assalto aos cofres públicos e lidera uma base política que só não está na cadeia por formação de quadrilha porque estamos no Brasil.

PC Farias era um amador perto dos parceiros de Lula, os homens dos mensalões, de negócios pra lá de suspeitos, negociatas, melhor, inclusive d'além mares, e do aparelhamento partidário do Estado.

Além dos mais, foi de forma espontânea que Lula elogiou Collor, sem que o alagoano forçasse uma situação de proximidade. E não consta que Collor tenha tanta importância assim na base de apoio do governo. Bem, Lula pode dever a Collor mais do que sabemos pelos meios usuais. Se for isso, logo aparece.

Mas uma certeza que podemos ter é que Lula já está bem além da linha que divide o que é a ação política que pode exigir certas alianças para a governabilidade daquilo que é o convívio fraterno com a desonestidade. Como se diz, ele já é um deles, e por isso nem se apercebe mais de certas impropriedades éticas. Além do mais, Lula já está numa situação na qual só encontra conforto pessoal com figuras como Collor. Quem é que ele iria abraçar? Seus parceiros dos tempos éticos, gente como Francisco de Oliveira, o professor Aziz Ab'Sáber, bem, pessoas assim devem dar sentimento de culpa em Lula só de ouvir falar seus nomes. Daí o abraço.

Collor, é claro, quer apenas colar sua imagem à popularidade de Lula, ação ainda mais garantida em um estado como sua Alagoas, onde grande parte da população vive desesperadamente necessitada do assistencialismo do governo petista.

Os dois abraçados na foto se merecem, é claro. Mas no cômputo histórico Collor ficou bem abaixo de Lula nas — como dizia na época o petista — maracutaias.
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POR José Pires

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