sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Requião cai de pau em ministro de Lula

Lula planeja palanques duplos, triplos, infindáveis palanques país afora. Os petistas agem como de costume: fazem o que sempre criticaram nos outros. Neste aspecto são bem parecidos com os bolcheviques, que protestaram bastante contra os crimes do Czar para depois, no poder, fazer até pior.

Mas voltando aos palanques lulo-petistas, no Paraná eles terão dificuldade para construir palanques. O mais importante aliado no estado, o governador Roberto Requião (PMDB), dificilmente subirá em palanque com o PT. Esta semana o governador fez acusações graves contra o Ministro do Planejamento, Paulo Bernardo.

Requião acusou Bernardo de tentar superfaturar um projeto de um ramal ferroviário no Estado. É caixa alto: o governador paranaense disse que a obra sairia por R$ 150 milhões e ficou espantado quando o ministro de Lula levou a ele o custo de R$ 550 milhões.  A denúncia faz pensar que este governo está ficando cada vez mais caro. É um superfaturamento de cerca de R$ 400 milhões.

Requião fez as declarações na última segunda-feira na reunião semanal de seu secretariado, que é transmitida pela televisão do governo.

O governador disse o seguinte: "O que você está me propondo é o seguinte, Paulo Bernardo: eles [ALL, empresa privada que detém concessões de ramais no Estado] recebem R$ 550 milhões e o governo federal abre mão das prestações. Então, ministro, anote aí: eu não concordo. Se isso for feito, eu denuncio imediatamente".

E denunciou. Paulo Bernardo respondeu imediatamente em nota oficial e piorou as coisas. Chamou Requião de mentiroso e disse que ele, ministro, agiu por determinação do presidente Lula. Bem, aí fica difícil para o cara dizer que não sabia de nada.

Requião, que é de dar boiadas tanto para entrar como para não sair de briga, respondeu de bate-pronto. Desmentiu todas as alegações do ministro e afirmou que não poderia acreditar que Lula tenha montado “a absurda proposta que o ministro me trouxe”.

Na nota, Requião ainda destacou as nada republicanas ligações entre servidores públicos nomeados e os interesses da iniciativa privada que costumam acontecer no governo Lula. Segundo Requião, na reunião com Paulo Bernardo estava presente Bernardo Figueiredo, “àquela época assessor da Casa Civil da Presidência da República e hoje diretor da ANTT”, a Agência Nacional de Transportes Terrestres, órgão do governo federal que centraliza um plano nacional de reativação do transporte ferroviário no país. É coisa para a imprensa ficar de olho.

Segundo Requião, além de trazer o superfaturamento extraordinário da obra, pela proposta do ministro a ALL, empresa privada do setor, ainda receberia de presente o trecho ferroviário Guarapuava-Ipiranga, deixando de pagar pela concessão da antiga Rede Ferroviária Federal a quantia de R$ 52 milhões por ano.

Nesta quinta-feira a direção estadual do PT também se manifestou a favor do ministro. Bernardo é o chefão do PT no estado e tem pretensões caudilhescas, para isso contando com o domínio praticamente total do partido. O ministro é altamente prestigiado por Lula, na condição de um faz-tudo palaciano que não discute ordens. E é claro que os quase oito anos no ministério dão um cacife danado à ele e seu grupo, que avançam sobre municípios do interior para aumentar suas chances eleitorais.
 
A briga entre o Paulo Bernardo e Requião vem desta tentativa petista de dominar a política estadual no âmbito da esquerda, área que sempre esteve nas mãos do governador.

Para concretizar seu plano, é claro que Paulo Bernardo não pode colocar a conhecida carranca, de pouca eficiência eleitoral, por isso é sua mulher, Gleisi Hoffmann, a estrela de campanhas eleitorais onde rola muito dinheiro. A campanha dela para a prefeitura de Curitiba (com 1.179.223 eleitores) foi mais cara até do que a de Marta Suplicy, que disputava a prefeitura de São Paulo, cidade com um total de eleitores de 8.198.282.

É sempre grana alta, mas até agora não tem dado resultado. A mulher do ministro perdeu no primeiro turno para o tucano Beto Richa, que teve mais de 70% dos votos. Mas pelo que se vê o projeto deste ano para colocar Gleisi Hoffmann no Senado está bem “azeitado”. Um ano antes da eleição a candidata já forra o estado de outdoors e distribui nas cidades farto material gráfico de alta sofisticação e custo.

A última nota do PT estadual chama Requião de mentiroso e divisionista. A briga é boa e não vai pela cabeça de nenhum paranaense a idéia de apartar. Requião é firme no confronto e o PT não goza de simpatia entre os paranaenses. Além perder feio na capital, o partido também levou uma sova nas cidades mais importantes do interior.

Em Londrina, maior colégio eleitoral do interior, o candidato petista a prefeito só não ficou em último lugar porque o PSOL tinha um candidato para evitar que o vexame fosse total. O deputado federal André Vargas, muito próximo do ministro, quase teve menos votos que o vereador mais votado do município.

Os palanques sonhados para Dilma Rousseff estão, portanto, neste pesadelo no Paraná. Com esta briga política, que dificilmente terá um fim próximo, não deve sobrar estrutura para Lula montar palanque algum.
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POR José Pires

2 comentários:

Anônimo disse...

Esse pessoal do PT do Paraná liderados pelo ministro Paulo Bernardo ainda vão dar o que falar.

Armando disse...

Se bem me lembro esse mesmo ministro Paulo Bernardo estava envolvido em um caso denunciado pela imprensa e o escândalo era também de soma alta. Era um caso de pagamento de dívidas junto ao Governo Federal em que usineiros levaram mais de 100 milhões de reais. O que deu o caso?