sábado, 9 de abril de 2011

As sandices que Lula quer deixar pra trás

Que Muammar Kadhafi já está com o seu destino selado é muito óbvio. Porém, se alguém ainda tivesse alguma dúvida, logo se convenceria da desgraça do ditador líbio ao saber que o ex-presidente Lula já está renegando o velho amigo do peito.

Lula até perdeu a compostura quando a jornalista Denise Chrispin Marin, correspondente do Estadão em Washington, chamou a sua atenção para a fraterna amizade que sempre teve com Kadhafi. Lula estava bravateando sobre sua disposição para mediar o conflito na Líbia quando a jornalista lembrou que em dezembro de 2003, em visita oficial à Líbia, ele se referiu ao ditador como "companheiro e amigo".

Lula se irritou com a questão e disse para a jornalista: "Não fale uma sandice dessas. Conheço as pessoas e sei como me referi a elas”. Lembra bastante o velho Lula que em 2004 quis expulsar do país o correspondente do New York Times, Larry Rother. E o jornalista americano Rother nem havia publicado uma grande revelação sobre o governo petista. Ele apenas escreveu em um artigo que Lula bebia demais.

Na resposta à jornalista do Estadão, Lula ainda completou com uma afirmação clara de que Kadhafi é mais um amigo largado no caminho: "Eu jamais falaria isso por uma razão muito simples: porque eu tenho discordância política e ideológica".

A notória memória seletiva do Supremo Apedeuta continua tinindo. Ele só lembra o que interessa no momento e descarta até amigos próximos quando lhe convém. Kadhafi não deve se deixar abater. Há uma longa fileira de amigos que seu amigo Lula deixou pra trás.

Nada comove seu coração, nem situações trágicas, como a tortura e assassinato de gente próxima. A família do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel, pelejou para que ele ajudasse no desvendamento da morte do amigo que era para ser seu braço-direito no governo, mas botou ele uma pá de cal sobre o assunto.

Lula também deixou para trás o ex-prefeito Toninho do PT, morto a tiros em Campinas, em setembro de 2001, quando era prefeito da cidade. Neste caso, Lula se negou a atender até aos apelos da viúva de Toninho do PT para que o crime fosse investigado com mais profundidade.

Portanto, o ditador da Líbia não é o primeiro e nem será o último chegado que Lula. E isso porque há cerca de um ano e meio, ele foi bem mais afetivo com o ditador líbio do que na situação anterior lembrada pela jornalista do Estadão.

Escrevi sobre isso aqui. Lula esteve novamente na Líbia e é possível ver nas fotos o encantamento de Lula pela figura do ditador. Mas não podemos esquecer que então Kadhafi parecia tão poderoso que ninguém conseguiu prever que em menos de dois anos ele estaria na situação periclitante de agora.

No encontro da Cúpula da União Africana, em julho de 2009, Lula chamou Kadhafi de "irmão, amigo e líder". Cercado de ditadores africanos, inclusive do anfitrião do encontro, que aconteceu na Líbia, Lula esteve presente como convidado de honra.

Na visita anterior, de 2003, o petista recebeu também a condecoração Al Fateh, a mais importante do governo líbio. O nome é uma homenagem ao movimento que levou Kadhafi ao poder em 1969. Seria interessante saber o que Lula pretende fazer agora com esta alta condecoração que sofre uma baixa histórica das mais pesadas. Não é material que Lula vá expor na sua fundação. A não ser que ele quisesse contar sua história de forma verdadeira. Mas isso ele já disse que acha uma sandice.
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POR José Pires

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