quarta-feira, 27 de abril de 2011

O senador da chacota

A foto ao lado está cada vez mais conhecida. É uma daquelas imagens que são um achado como significado da personalidade do retratado. A foto é de Albari Rosa, do jornal paranaense Gazeta do Povo. Vai acabar virando um logotipo do ex-governador e agora senador Roberto Requião se ele não tomar jeito. E Requião não é mesmo de tomar jeito.

Esta grosseria que ele cometeu nesses dias com um jornalista da Rádio Bandeirantes, de quem tomou o gravador por ter ficado zangado com uma pergunta, é café pequeno perto do que ele fez nos oito anos de seus dois mandatos, o segundo conquistado na gata, num segundo turno em que aprontou os diabos para chegar com apenas dez mil votos na frente do então senador Osmar Dias.

É sempre assim — na gata — que ele conquista suas vitórias políticas. Na eleição para o Senado quase perde a vaga. Durante a campanha ninguém mais o agüentava, tanto que levou uns tapas de um deputado federal quando destratou um grupo de pessoas e também tomou uns petelecos de um amigo do governador Orlando Pessuti. O motivo? Requião falava mal de Pessuti, que foi seu vice nos dois mandatos. Ficaram juntos por mais de oito anos e, no final, nem se falavam mais.

Dá até a impressão de que o eleitor paranense votou no Requião para que ele ficasse longe do estado. Mas antes dele seguir para Brasília, o Paraná teve que suportá-lo. Como fazer quando o mala, o espalha rodinhas é o próprio governador do estado? A população tem que agüentar o chato. É um dos males da democracia.

Os paranaenses viveram atormentados pelo governador nesses anos. Requião é esquentado, prepotente, autoritário, arrogante, inoportuno e, pior, também se acha engraçado. O Youtube está cheio de vídeos com suas mancadas. Uma das mais conhecidas é aquele da visita ao Lula, no Palácio do Planalto, quando ele enche a mão de sementes de mamona e manda pra boca, como se fosse um punhado de castanhas de caju ou amendoins.

Mas o Requião é chato não é de hoje. A amolação vem desde sua juventude, os amigos de então garantem. Vamos a um deles, Jamil Snege, um escritor de um estilo muito especial, além de ser engraçadíssimo, o que se vê pouco na literatura brasileira. Snege é um desses talentos maravilhosos que se perdeu na publicidade e na propaganda política, fato, aliás, nada raro em Curitiba, onde ele morou a vida inteira.

O escritor trabalhou como marqueteiro em várias campanhas políticas para o próprio Requião. Na última, para governador, Requião colocou no meio da propaganda política uma homenagem póstuma para o amigo Snege, que bem poderia ter morrido sem essa.

O escritor paranaense, portanto, conviveu bastante com Requião. Num ótimo livro seu, "Como se fiz por si mesmo", um tanto difícil de catalogar, mas que é bastante memorialístico, lá na página 173 Snege publica uma lembrança sobre o senador. Vou transcrever na integra:

"O que Roberto Requião fazia nos inícios de 70? Guerrilha, revolução armada, sublevação das massas? Porra nenhuma. Chegava em minha casa geralmente no sábado, com a mulher Maristela, sentava-se num sofá xadrez e até uma, duas da madrugada, entretinha a platéia com casos do mais irreverente e cáustico humor. Findo o repertório, escolhia uma vítima entre os presentes e torturava-a até a morte, a menos que alguém o interrompesse com um prato de spaghetti à matricciana."

Quando passou a mão no gravador do repórter, Requião estava se comportando de forma parecida com o que fazia nos inícios de 70, quando torrava o saco dos amigos na friorenta Curitiba. É o senador da chacota, do pouco caso com o respeito ao cargo. A diferença é que agora o país inteiro é que tem que suportar suas bizarrices.
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POR José Pires

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