segunda-feira, 11 de abril de 2011

O gato nuclear do Japão caindo do telhado

Desde o início da crise nuclear do Japão venho afirmando que o governo japonês esconde o que de fato vem acontecendo dentro da central nuclear de Fukushima. Usei a velha imagem do gato que subiu no telhado para mostrar minha desconfiança com as notícias oficiais sobre o acidente nuclear. Pois parece que o gato caiu do telhado.

Hoje o governo japonês admitiu que o desastre nuclear está no nível sete, que é o máximo da escala de acidentes nucleares INES, que vai de 0 a 7. Fukushima está no nível da tragédia nuclear de Chernobyl, ocorrido há 25 anos na Ucrânia e que é o único acidente no mundo que atingiu esse nível de gravidade.

Até agora o governo mantinha o nível 5. Desde 15 de março a agência de segurança nuclear da França afirmava que para eles o nível era 6. O Japão se fechava no seu tatemae, o traço psicológico de um povo que terminou virando uma arma política de autoridades inescrupulosas e que acabou em um desastre que não se sabe onde vai parar. Se é que vai parar um dia. Depois escreverei mais sobre isso.

Também no dia 15 de março eu escrevia aqui que o acidente estava próximo de uma tragédia nuclear que poderia abalar o Japão e mudar de vez a opinião mundial sobre o uso da energia atômica. O lobby nuclear se defende bem e tem bastante dinheiro para tanto. Mas vai ter dificuldades de sair bem dessa tragédia no Japão.

Naquele dia 15 o comissário europeu de Energia, Günther Oettinger, definia de forma assustadora o que podia estar ocorrendo no Japão. "Se foi falado em apocalipse", ele dizia "na minha opinião é uma palavra muito bem escolhida".

Agora é esperar para ver como vai ser enfrentado este "apocalipse". O governo japonês podia começar deixando de usar a dissimulação para fugir da confrontação com a opinião pública e passar a enfrentar a tragédia de uma forma que nunca fez em seu programa nuclear: com transparência.
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POR José Pires

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