sábado, 16 de novembro de 2013

O jeito Lula de ser companheiro

Que lealdade, respeito e solidariedade não são coisas do ex-presidente Lula já se sabe há muito tempo, mas mesmo vindo dele foi constrangedora a descartada que ele deu ontem em José Dirceu. Não era assim quando Dirceu ocupava a Casa Civil de seu governo, na época em que rolava o mensalão. Naquele época, ele era o "capitão" de seu time. E agora com a condenação pelo STF isso virou águas passadas. Mas o cara é assim mesmo. Ele vai largando os companheiros na estrada conforme sua conveniência. E quando a desgraça alheia tem relação com algo que pode também incriminá-lo, aí então é que ele some de perto.

Até companheiros assassinados são abandonados da forma mais injusta. Foi isso que ele fez com Toninho do PT, morto a tiros em 10 de setembro de 2001, quando era prefeito de Campinas. Na campanha presidencial de 2002 Lula prometeu para Roseana Garcia, viúva do prefeito assassinado, que colocaria a Polícia Federal para investigar o crime se fosse eleito. Ele acreditava em crime político, mas logo mudou de opinião. No poder, ele até se recusou a receber a viúva. Agora, no mês de setembro passado, o Ministério da Justiça recusou oficialmente o pedido para que a Polícia Federal entrasse no caso. O governo do PT levou 12 anos para dizer não. A família diz que vai denunciar o Estado por omissão na Organização dos Estados Americanos.

Outro companheiro morto que Lula fez questão de deixar para trás foi Celso Daniel, assassinado também no cargo de prefeito. Daniel era prefeito de Santo André e quando foi morto coordenava a campanha de Lula para presidente da República. Ele morreu com onze tiros depois de ser muito torturado pelos assassinos. O crime aconteceu em data muito próxima ao assassinato de Toninho do PT: 18 de janeiro de 2002. Os casos são parecidos também na teimosia do partido e de Lula de querer mantê-los na esfera do crime comum. A morte de Daniel tem corrupção no meio e o Ministério Público garante que era dinheiro desviado para a campanha do Lula.

São crimes muito estranhos, com o assassinato de Celso Daniel envolvido num enredo que não daria para aceitar nem em minissérie policial. Além da tortura e da quantidade de tiros, o que nunca acontece em crime comum, sete testemunhas morreram, todas em situações misteriosas. Porém, seja como for, o que causa mais estranhamento é que não tenha havido da parte de Lula nenhum interesse em esclarecer definitivamente os crimes, eliminando todas as dúvidas, afinal tratava-se também da morte violenta de dois amigos muito próximos.

Mas qual nada. Seu caráter é o de quem larga qualquer um para trás, sem lealdade, respeito, solidariedade ou mesmo compaixão. Com ele é companheirismo, companheirismo, negócios à parte.
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Por José Pires

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