sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Exumações eleitoreiras

Como no Brasil não se respeita em situação alguma o sinal amarelo, acaba-se não tendo tempo algum para uma reflexão que evite a trombada no sinal vermelho. Mas eles estão todos por aí num piscar desesperado. Li agora há pouco num desses sites pró-governo e bancados por dinheiro público um artigo em torno deste esquisito revival janguista, que aparece inclusive numa hora imprópria para homenagens. João Goulart sendo reverenciado por autoridades de um governo imerso na lama da corrupção acaba dando um tom até cômico às suas exéquias.

Mas o artigo a que me refiro revela de forma mais clara o que está por detrás desta surpreendente redescoberta do presidente derrubado pelos militares em 1964. O título do artigo já diz tudo: "Depois de Jango, falta exumar as reformas de base". É isso mesmo, além da esquerda ter criado um monte de fantasmas próprios agora estão pensando na exumação de fantasmas do passado. E claro que não estou falando sobre a compreensão sempre necessário sobre o que vivemos no período pré-64. Não é este o interesse desta esquerda que está no poder.

Os dramas que o país viveu naquela época têm tudo a ver com o que interessa na construção de temas favoráveis à reeleição de Dilma Rousseff e a continuidade do projeto de poder do PT. O que estamos vendo é um janguismo marqueteiro. Interessa a eles trazer de volta ao debate a confusão conceitual e ideológica daqueles tempos. Se for bem manipulada, esta balbúrdia pode criar a ilusão no eleitorado de um sentido novo para um governo que falhou em tudo, inclusive nos temas das famosas "reformas de base" propostas por Goulart. Até pela incapacidade técnica do governo do PT ainda estão aí todos todos os problemas relacionados àqueles tempos. Tem até mais que isso. Naquela época não havia o assustador índice de violência e o país precisava dar um impulso às suas indústrias e não salvá-las do sucateamento, como ocorre agora.

Sistema financeiro, distribuição de renda, habitação, reforma urbana, relação do governo com os bancos, estrutura fundiária e a relação com o setor rural, todas as demandas daquela época servem de forma apropriada para um governo como este, que precisa desviar os olhos da opinião pública de sua incompetência administrativa e da índole dos larápios travestidos de líderes políticos e autoridades oficiais.

No meio disso tudo podemos ter também a extrema esquerda se colocando com sinceridade na luta pela volta inclusive daquele clima político conflituoso. Ah, teremos também com certeza na luta o sindicalismo atrelado ao governo, desta vez todos muito bem fixados em gordas verbas estatais ou tiradas do bolso dos trabalhadores, cargos nomeados e privilégios pessoais. Não falta também o uso demagógico da Petrobrás e o engodo do petróleo como combustível mágico para o desenvolvimento. Ainda bem que para a nossa sorte não temos sargentos nesta história e também nenhum cabo da marinha.

No Brasil sempre é difícil atinar para os nossos reais problemas, por causa da falta de atenção ao tempo de meditação e debate que pode proporcionar um sinal amarelo. Como este sinal nunca é respeitado, geralmente só percebemos o drama quando o amarelo virou vermelho e bem lá atrás. Apurem os ouvidos, estão ouvindo as correntes? Estão exumando até sinais vermelhos do passado.
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Por José Pires

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