Ué, não entendi a tristeza dos amigos do Delúbio Soares. Não era para eles estarem rindo da "piada do salão"? Pois é, a situação não é nem um pouco engraçada para o esquema político que hoje domina o governo brasileiro. Os mensaleiros poderiam até ir para casa já nesta segunda-feira, algo que não acontecerá de forma alguma, mas mesmo se fosse assim já estaria criada uma situação que é uma linha de fronteira entre duas épocas distintas da nossa política, de antes e depois do mensalão. A prisão dos mensaleiros define este marco.
A preocupação de quem ficou de fora das grades não é com a situação do Delúbio, do Genoíno ou mesmo do poderoso José Dirceu. Isso se arranja, além do que a desgraça de cada um desses mensaleiros abre espaços no poder e no partido que já devem estar sendo objeto de muita disputa nos bastidores Tudo estaria bem, se não fosse o padrão determinado na política pela prisão dos mensaleiros. O pessoal gosta mais da palavra "paradigma" para definir este modelo que fica estabelecido a partir desse 15 de novembro, que foi um dos aniversários mais importantes da história recente da República.
Com a cúpula do mensalão em cana mantém-se agora a possibilidade sempre presente da punição até para os mais poderosos integrantes do crime organizado na política. Escaparam do julgamento no STF outros responsáveis pelo esquema, entre eles o ex-presidente Lula, que só não poderia saber de nada se fosse um idiota. Muito ao contrário disso, ele é um dos mais espertos da turma. Mas para o próprio Lula serve também este paradigma.
Foi por um golpe de sorte que o ex-presidente escapou de sentar-se no banco dos réus. Teve também um erro de avaliação da oposição, que acreditou na chantagem política feita pelo PT com a ameaça de criar uma conflagração nas ruas caso Lula fosse acusado oficialmente. Foi bravata pura e não é só agora que digo isso. Escrevi na época. E bastava ver o desespero dele naquela famosa "entrevista" filmada em Paris para perceber o blefe político. O poder de Lula e de seus companheiros é fruto de maquinações com o uso da máquina pública e de muito dinheiro. Estão bem longe de terem capacidade de grandiosas mobilizações populares. Nem se algum deles desse um tiro no peito.
Poderiam até ter criado esta condição política, que seria um inferno para o Brasil, mas estaria pronta para o proveito deles. Mas para isso teriam de ter se dedicado à construção de um projeto político e não caído no insaciável ataque aos cofres públicos. Mas agora também ficou tarde para isso e cada passo daqui por diante torna-se mais arriscado. Foi estabelecido pelo julgamento do mensalão um padrão mais rigoroso. Ou melhor, vamos usar essa palavra que eles falam tanto. Comecei a gostar dela. A punição dos mensaleiros foi um paradigma que não permite fazer da corrupção uma piada de salão.
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Por José Pires
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