terça-feira, 24 de junho de 2014

Quiproquó na direita

No Facebook costuma acontecer muita confusão, mas eu nunca tinha visto um arranca-rabo como o que vem ocorrendo entre Olavo de Carvalho e parte de um pessoal em torno dele. Sua página vive lotada, no limite dos cinco mil e ele tem 65 mil seguidores. Mas sempre está abrindo alguma vaga, pois um questionamento pode levar o professor de filosofia a excluir o petulante. Esta eliminação pode ser precedida de uma bronca feia, inclusive com xingamentos.

Assim vem sendo neste novo atrito, de maior volume que os anteriores porque vem juntando gente em torno da polêmica, com um dos lados fazendo um retrospecto da tirania do mestre sobre os que o cercam. Os alvos dos ataques de Carvalho são Francisco Razzo e Gustavo Nogy, dois jovens expoentes do pensamento de direita.

O aborrecimento de Carvalho começou com uma entrevista de Razzo ao site “O Camponês”, onde se falou sobre a ampliação do espaço intelectual da direita no Brasil. Razzo citou então vários pensadores e acabou deixando de lado o nome de Olavo de Carvalho. Esta omissão causou um descontentamento entre seus admiradores, alguns deles alunos que o seguem com fanatismo. A fúria do professor veio com um post publicado por Razzo, procurando esclarecer o que disse na entrevista. O post foi linkado com entrada na página de Carvalho e daí veio todo o quiproquó.

Gustavo Nogy entrou na história apenas por ter escrito um breve post solidarizando-se com Razzo e fazendo uma rápida análise, quando afirmou que também para ele Olavo de Carvalho não era uma influência determinante. Fez isso com o maior respeito e vem afirmando sucessivamente sua grande consideração pelo papel político e intelectual de Carvalho. Mas só vem recebendo pauladas.

Olavo de Carvalho não deixa de ter razão em se aborrecer com dois jovens que fazem uma leitura equivocada até das suas próprias situações pessoais na atualidade. Razzo e Nogy estão para lançar seus primeiros livros, após um relativo sucesso na internet. Sem dúvida, não teriam esta projeção hoje em dia para expressar suas ideias se não tivesse existido o longo trabalho anterior de Carvalho na criação do espaço que se abriu para o pensamento de direita. Sua atuação foi de início numa dureza total e um isolamento intelectual suportados com uma fibra admirável. Nada contra que um jovem direitista aponte um Leo Strauss, um Allan Bloom ou até mesmo um Aristóteles como essenciais na sua formação pessoal, mas é óbvio que não foi deles e nem de quaisquer outros a conquista direta do espaço que o pensamento de direita tem atualmente no país.

Isso se deve em grande parte a Olavo de Carvalho, que apesar da ranzinzice insuperável é um dos textos de maior qualidade que já se teve no país e um pensador que trouxe questionamentos essenciais à esquerda no poder. De insuperável também são minhas divergências com suas posições políticas em muitos aspectos, a começar pelo religioso, mas na minha visão o país tem a ganhar com um espaço intelectual aberto para o pensamento de direita. O debate nacional precisa de conservadores que pensem com razoável qualidade.

O problema de Carvalho nesta polêmica foi a desproporção de sua reação em relação aos fatos. Apesar de sofrer ataques grosseiros, Nogy vem respondendo de forma rigorosa e com boa educação aos questionamentos que surgem em sua página. O professor de filosofia mantém até agora a mão pesada nos seus posts. No final, foi feito um furdunço de uma questão que poderia ser desenvolvida em um debate equilibrado. Bem, mas aí o Olavo de Carvalho não seria o Olavo de Carvalho. No entanto, o resultado disso pode ser muito ruim para seu próprio trabalho, que até aqui vem prosperando de tal forma que afeta até o poder da esquerda. Ele mesmo pode ter criado dentro da ala mais inteligente da direita brasileira um racha que nem seus adversários sonhavam.
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POR José Pires

2 comentários:

Unknown disse...

ola

Elvis Souza disse...

Olavo tem suas contribuições, mas agora não venha me dizer que a direita só teve respaldo aqui no Brasil por causa dele. E muito menos que o ambiente cultural só foi possível por ele. É um absurdo tais suposições. Parece-me que agora a cultura em nosso país exige um Antes de Olavo e Depois do Olavo. Isso é uma desonestidade com os intelectuais brasileiros que por aqui passaram, no quais deixaram suas contribuições. Além do mais, é importante notar que a Cultura sempre foi possível no Brasil. Desde sua gênese!