segunda-feira, 9 de junho de 2014

O poder sem diálogo

O que sobrará para o PT de personalidades dignas de um mínimo de respeito por parte do partido no caso de vitória nas próximas eleições? Eles já não têm quase ninguém. Nesses três mandatos sua militância vem demolindo gradativamente toda relação de respeito com qualquer um que dê opinião que seja vista como contrária ao interesse do governo. O inimigo da vez é o ex-jogador Ronaldo, mas já tivemos uma porção de outras personalidades que foram arrasadas em público. Acontece muitas vezes inclusive uma mudança abrupta de reação desta militância, que passa com rapidez do aplauso à vaia ou coisa muito pior. Na verdade, as arremetidas vão sempre para o muito pior. Quando de cima as lideranças apontam um alvo, de baixo surgem as maiores baixarias.

O ministro e presidente do STF, Joaquim Barbosa, experimentou esta ligeira variação de sentimento. Logo que assumiu a vaga no supremo e parecia ser manipulável aos interesses do PT, Barbosa era tratado como ídolo, inclusive com a militância apontando na cor da sua pele uma qualidade da sua presença neste alto cargo da Justiça. Mas a discordância dos maiorais do PT com a condução do mensalão feita por Barbosa levou a uma mudança da militância, que passou ao ataque da forma mais grosseira, trazendo também a questão da cor da sua pele, desta vez em agressões racistas.

Os ataques ao ministro Barbosa são apenas um exemplo do estilo destruidor do PT. Se o partido conquistar a presidência da República novamente, conforme disse no início, vão sobrar poucas personalidades brasileiras dispostas a um diálogo com o partido. É difícil estar aberto a um papo que mesmo começando bem pode acabar em porrada da parte deles. Isso vai minando o diálogo do partido com a sociedade civil. Tirando os governistas empedernidos, não sei falar de nenhum empresário, esportista, artista ou qualquer outro profissional destacado que se arrisque a aproximar-se de um projeto político que exige incondicional apoio, sem nenhum espaço para o pensamento crítico e a liberdade pessoal.

Esta atitude agressiva veio da prática do PT na oposição e virou tática eleitoral, uma arma de ataque em eleições e que vem sendo usada também no poder por mais de dez anos. Depois caiu na rede, como se diz, onde a militância passou a atirar contra qualquer um que fale algo que seja visto como crítica ao governo. E é claro que com esses ataques vai-se ampliando o círculo de mágoas muito além de um Joaquim Barbosa, um Ronaldo ou mesmo um Ney Matogrosso, o alvo mais recente dos companheiros em bandos depois de uma entrevista deste grande artista a uma emissora de televisão de Portugal. Com esta atitude troglodita o PT foi ampliando sua rejeição até aos admiradores e fãs de tantas pessoas atacadas de forma grosseira. Já deve ser uma multidão de insatisfeitos. O PT pode até ganhar esta eleição, mas terá depois que se esforçar muito para arrumar alguém com quem conversar.
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Por José Pires

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Imagem- O ministro Joaquim Barbosa, aqui numa imagem famosa de ataque da militância petista, saiu rápido da qualidade de herói para a de vilão.

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