terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Trinca do barulho


Num governo em que a produção de piadas prontas só tem rival na criação contínua de escândalos de corrupção, apareceu nesta semana um produto de humor involuntário que parece imbatível. O eterno presidenciável Ciro Gomes se juntou ao ex-ministro Carlos Lupi, mais o governador do Maranhão, Flavio Dino, e a trinca fundou uma auto-intitulada “Rede da Legalidade”, contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff. O nome da coisa é referente ao histórico movimento liderado por Leonel Brizola no governo do Rio Grande do Sul, em 1961, em defesa da posse do presidente João Goulart, após a renúncia de Jânio Quadros.
Como se costuma dizer nas redes sociais, é muito “fake” tentar se apossar de um nome com esse peso histórico, ainda mais numa situação que em vez da necessidade de coragem exige apenas falta de caráter. Mas não deixa de ser curioso a presença de Ciro Gomes em algo assim, ele que tem origem política ainda na ditadura militar nos quadros do PDS, partido que recebeu uma logotipagem moderninha para escamotear sua verdadeira identidade: era a Arena, que sempre defendeu o regime dos militares. Quando era vivo, Brizola costumava chamar esse tipo de político de “filhote da ditadura”. O estilo truculento do ex-deputado cearense não nega o berço. Ciro Gomes entrou há poucos dias no PDT, o sexto partido na sua carreira política. Já foi inclusive do PSDB e só não foi do PT porque não é necessário. Serve como avulso ao partido de Lula deste o primeiro ano de poder petista.
Outra figura do patético trio, o governador Flavio Dino, também não tem currículo condizente com o respeito à democracia. Esse pessoal que defende Dilma se apegou ao argumento mentiroso de que o impeachment é um golpe. Pois o partido de Dino, que é do notório PCdoB, tem como fato mais marcante de sua história uma das piores tentativas de golpe que já houve no Brasil, a Guerrilha do Araguaia, movimento armado que ocorreu entre os estados de Tocantins e Pará, entre 1972 e 1975. O partido de Flavio Dino tenta fazer colar nessa história a lorota de que a luta era contra a ditadura. É mentira. O plano do PCdoB era o da implantação de uma ditadura comunista, que dependendo dos humores do partido poderia ser de inspiração do comunismo chines ou apoiada nas ideias de Enver Hodja, ditador comunista que durante décadas manteve a Albânia como um país miserável, mesmo estando situado na Europa. Hodja é um dos ídolos históricos dos comunistas do PCdoB, junto com Josef Stálin. Na atualidade um país considerado por eles um exemplo político é a Coréia do Norte.
Para completar a ficha, outro integrante da liderança da tal “Rede da Legalidade” é figura manjada da política brasileira, um daqueles sujeitos que toda vez que aparece uma grande sujeira política pergunta-se se o nome dele já apareceu no meio. Carlos Lupi é chefão do PDT e um defensor da legalidade ao nível de Dilma, a presidente que já confessou que dá suas pedaladas. E ela conhece muito bem esse seu guerreiro, herói do povo brasileiro. Ministro do Trabalho no primeiro mandato da sucessora de Lula, ele se destacou na onda de demissões que teve logo no primeiro ano. Foi o sexto ministro a cair por causa de corrupção. Esse baluarte da legalidade que agora reaparece ao lado de Ciro Gomes e de Flavio Dino é aquele que depois de apontado como corrupto dizia que só o tiravam do ministério "abatido à bala". No entanto, não foi preciso desperdiçar chumbo. Ele foi obrigado a pedir demissão, senão a presidente Dilma (mesmo ela sendo a Dilma) seria obrigada a chutá-lo pra fora do governo. Agora, a presidente conta com ele e mais os outros dois na defesa de seu mandato. Ou "da legalidade", como eles dizem. Pra alguém como ela, até que é legal.
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POR José Pires

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