quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Bolsonaro e a anistia que não colou

Como todo mundo sabe, o deputado Jair Bolsonaro vive arrotando valentia e chega a ser grosseiro para manter a imagem de corajoso. Mas quando a coisa aperta para o seu lado, ele não deixa de pedir arreglo. Seus seguidores pediram anistia ao deputado na ação penal no STF pelo crime de incitação ao estupro. Em 2014, discursando na tribuna da Câmara ele disse que “não estupraria” a deputada Maria do Rosário “porque ela não merece”.

Ficamos sabendo agora dessa anistia porque a Comissão de Direitos Humanos do Senado rejeitou a proposta, apresentada com o apoio de 20 mil pessoas. É muito estranho que um parlamentar que se diz tão destemido faça um pedido desses, procurando fugir de um processo que veio de uma fala sua em plenário, dita com toda a convicção, como pode ser visto até hoje em vídeos na internet. Ele devia assumir com coragem sua palavra, não é mesmo?

Aliás, a anistia foi um pedido dos mesmos seguidores que aplaudiram a fala de Bolsonaro e vinham compartilhando com orgulho não só essa afronta a uma colega durante os trabalhos da Câmara, como também vivem fazendo um alarde danado em apoio às agressivas manifestações do deputado, que no geral está sempre aprontando alguma encrenca. E no pedido, eles ainda classificam processo no STF como “perseguição”. Ora, quando é o adversário que vem com essa, de imediato é acusado de fazer mimimi. Agora temos então o mimimito.

É claro que um acusado tem o direito de fazer uso de tudo que legalmente possa ajudá-lo a comprovar sua inocência. Mas no caso de Bolsonaro é uma contradição séria este pedido. Até agora ele faz questão de manter sua fala, sem nenhum arrependimento. Ao contrário, ele reforça o que disse, inclusive com piadas de duvidoso gosto. Fica até chato ver agora um cabra tão grosso afinando desse jeito.

A tentativa de arreglo traz também dúvidas, muitas delas, sobre sua capacidade de enfrentar as reações que devem surgir caso seja eleito presidente da República. Bolsonaro é um político com um ideário forte. Se um dia for implantar o que pensa, evidentemente terá que enfrentar consequências mais pesadas do que o resultado deste bate-boca com a deputada petista. Depois dessa tentativa de fugir do pau, fica a dúvida se o deputado terá peito para enfrentar brigas muito maiores que virão depois de 2018.
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POR José Pires

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