terça-feira, 3 de março de 2009

Vamos contar direito a História

Foi um erro crasso da Folha essa conversa de “ditabranda”. O coice antijornalístico nos dois missivistas também não está certo. Mas não aconteceu nada de tão grave que não pudesse ter sido esclarecido com outra pequena nota. A vida é assim: errou, conserta.

Mas eu comecei dizendo que uma estupidez leva à outra. Pois elas se acumulam. Agora querem reescrever a história do jornal. A polêmica trouxe de volta a conhecida história dos carros que a empresa que edita a Folha de S. Paulo teria colocado à serviço da repressão policial na década de 70.

Pode até ter acontecido, mas não é fato comprovado que isso fosse uma política da empresa. A versões que circulam falam de carros da Folha da Tarde. Mas tem muita gente se aproveitando das imprecisões para tentar construir uma imagem da própria Folha de S. Paulo como colaboracionista da ditadura militar.

Mas aí já passa de equívovo. É mentira construída. O referido episódio teria ocorrido com outro jornal da mesma empresa, a notória Folha da Tarde, de triste memória. Este sim foi um jornal que colaborou, e muito até, com os setores mais extremistas da ditadura. Sua chefia da redação era ligada à repressão política.

Alguns espertos não estão nem um pouco interessado em deixar isso claro. Ao contrário, até incentivam a confusão. Não era a Folha de S. Paulo que publicava notícias sobre mortes de presos políticos enquanto eles ainda estavam bem vivos na prisão. Mas isso eles não dizem.

A mistura é até uma injustiça histórica com a redação da Folha de S. Paulo. Seus jornalistas não aceitavam a postura da Folha da Tarde e tampouco a da empresa. Existia um clima mútuo de animosidade entre os jornalistas das duas redações, que sequer tinham relações pessoais. Nem a cerveja eles compartilhavam.

Mas os disparates não se restringem a esse embaralhamento deliberado de fatos. Já li em blogs até que a Folha de S. Paulo se engajou na campanha a favor de eleições diretas para presidente da República por mera questão de marketing. São os mesmo blogs que não fazem crítica alguma ao agora lulista José Sarney, este sim um esforçado ativista na derrubada da emenda das Diretas-Já.

Poderíamos até deixar essas bobagens para lá, mas a coisa não é tão inofensiva quanto parece. Essa gente não é lá de muita qualidade e, por isso mesmo, carecem de credibilidade, mas o problema é que esse tipo de versão pode ir pegando aos poucos. Isso ocorrendo, o que pode acontecer é um fortalecimento da cultura do do “somos todos iguais”, que veio com Lula e seus mensalistas, e que já está fazendo um mal danado á cultura brasileira.

E dizer que Folha de S. Paulo foi um jornal que colaborou com a ditadura militar, além de ser uma mentira escabrosa, também desmerece o árduo trabalho de toda uma geração de jornalistas da maior qualidade — tendo à frente o grande Cláudio Abramo, pe mais entre outros, Tarso de Castro, Paulo Francis, Plínio Marcos, Oswaldo Mendes, Lourenço Diaféria e Perseu Abramo — para fazer daquele jornal um importante veículo na luta pela democracia e também um abrigo democrático para as mais variadas opiniões políticas, um papel que desempenha, aliás, até hoje. Por isso, inclusive a senhora Maria Victoria Benevides teve sempre espaço por lá. Ela que pouco deve saber das dificuldades cotidianas para editar um jornal no período da ditadura, pois no máximo comparecia com um ou outro artigo.

Extremistas jamais estão preocupados com algo que não seja a demolição de valores, qualquer valor, desde que os favoreça oportunamente. E nem é estranho a atividade febril dessas patrulhas de esquerda a serviço de um governo que no final só lhes concede algumas migalhas. Isso é assim mesmo. A história mostra que eles se valem desses pequenos golpes sempre à espera do momento que pode favorecê-los definitivamente.

A nós, cabe vigiar e atuar para que eles não prevaleçam, pois quando conquistam o poder, aí é que não tem mesmo ditabranda. Com eles é ditaduríssima.
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POR José Pires

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