sexta-feira, 3 de junho de 2011

Para Palocci ficar no governo, só se ele for considerado legalmente inimputável

Só tem um jeito de o ministro Antonio Palocci continuar no governo: a base aliada de Dilma tem que torná-lo inimputável. É provável até que os tucanos dêem uma força para isso. Como ele foi sempre o petista mais querido de tantos oposicionistas, um esforçozinho desses não deve pesar para ninguém.

Palocci vai ser o nosso índio branco no Planalto. Poderá despachar pelado na Casa Civil. Receberá políticos da base aliada peladão em seu gabinete. O ex- ministro Sergio Motta (o falecido trator Serjão dos tucanos, lembram dele?) dizia que, por precaução, certos políticos deviam ser recebidos numa sauna onde todos estivessem pelados. O inimputável Palocci vai poder fazer isso no próprio gabinete.

Apesar de que, pelas histórias que se conta da famosa República de Ribeirão Preto, a da mansão em Brasília onde tinha um caseiro honesto xeretando, ali em algumas ocasiões o ministro devia receber os convidados bem à vontade, não é mesmo? Mas deixa pra lá, o fato é que se tornando legalmente inimputável, Palocci vai poder passear sossegado por Brasília, pelado e com 20 milhões no bolso. Sem caseiro e nem imprensa xeretando sua vida.

Não sei se Dilma vai deixá-lo participar pelado de reuniões com ela, mas tudo se resolve. Até os índios em determinadas ocasiões largam o hábito de andar pelados. Vestem um calção de futebol e está resolvido. Isso resolve bem a situação: a reuniões com a presidente Palocci pode comparecer vestido com um calção do Ronaldo, que é mais ou menos o tamanho dele.

Então esse é o mais esperto dos articuladores do PT? O homem cheio de manha, o intermediário habilidoso foi comprar um apartamento de seis milhões de reais em São Paulo e na véspera da posse da candidata que ele assessorou desde o primeiro momento?

E foi comprar o apartamentão logo do lado da Folha de S. Paulo. Isso é que dá político se acostumar com o caráter passivo da imprensa do interior. Com o tempo acaba descuidando.

Com a saída de Palocci do governo cai mais um mito da nossa política. O quase ex-ministro-chefe da Casa Civil nunca foi mais que um intermediário ao gosto do grande capital. Fora isso, nunca passou de um político provinciano que, se nossas câmaras municipais funcionassem de fato e se existisse uma imprensa decente nas cidades do interior, o larápio teria sido brecado já em Ribeirão Preto em razão das tantas ilegalidades que praticou como prefeito daquela cidade.

Não é a primeira vez que Palocci apronta, isso o Brasil inteiro sabe. E em todas as vezes que fez isso demonstrou o espírito pequeno de um homem exageradamente valorizado só pelos serviços que presta para quem tem dinheiro. Foi por fazer a ponte entre os interesses de grandes grupos e de grandes fortunas com os esquemas governamentais do PT, com tucanos e outros oposicionistas tabelando pelo meio, que Palocci conquistou o carinho extremado de tantos. Não foi por alguma qualidade política especial, mas apenas porque faz sem nenhum pudor o serviço sujo.

Palocci servia até ao interesse dos adversários, neste eterno acochambramento que há no Brasil entre os negócios de Estado e os negócios particulares. Sabe-se lá porque, a ponte perfeita que sempre juntou tucanos e petistas foi um homem desses que era da farra orgiástica quando ocupava o cargo de ministro da Fazenda e depois foi comprar apartamento milionário na véspera de assumir a Casa Civil. Que gênio da política, não?

Quando era ministro da Fazenda de Lula, Palocci tinha a frente de si a possibilidade de realizações imensas, e nem estou falando em gestão ética e produtiva, mas de realizações dentro do jogo sem ética que se desenvolve em Brasília.

Mas o que fazia Palocci? Em vez de tocar o trabalho e ganhar o mundo com competência, o ministro levava a vida em orgias na notória mansão da República de Ribeirão Preto, onde rolavam orgias e sabe-se lá o que mais. Eu não estava lá para ver, mas em ambientes do tipo rolam drogas e fetiches dos mais variados. É provável até que por ali ele já despachasse pelado, mas tornando-se inimputável ele poderá fazer isso sem temer o falatório dos vizinhos.

Mas espera lá, sabemos que essa era a vida de Palocci, porque aconteceram coisas que levaram à revelação de tais segredos que se manteriam na sombra se não aparecesse pelos jardins da mansão das orgias um caseiro honesto chamado Francenildo.

E quantos petistas poderosos não levam uma vida parecida à de Palocci em Brasília sem que tenha aparecido nas suas vidas nem um caseiro nem nada que contasse para o Brasil que as coisas não são tão normais como todo mundo pensa?

E quantos também não acumularam fortunas parecidas com a de Palocci, uns mais, outros menos, sem marcar bobeira comprando apartamento de seis milhões de reais em ocasião inoportuna? Muitos deles, disso podemos ter certeza mesmo não tendo à mão nenhuma comprovação.

Um desses pode até ocupar o lugar de Palocci, que pode se manter mais um fim-de-semana no poder, mas vai acordar na segunda-feira contando os minutos que ainda pode suportar de pressão.

Até porque não tem condição de tornar inimputável o levado ministro. Se Palocci apronta desse jeito vestido de paletó e gravata, pode ser bem arriscado permitir que ele ande pelado por aí.
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POR José Pires

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