sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Parceiros de criação

Na década de 80 havia em Curitiba uma ebulição criativa num grupo que reunia uma porção de pessoas entre as quais destaco o Paulo Leminski e o Solda. Eles trabalhavam em publicidade, mas para a nossa sorte viviam com a cabeça em outro lugar. Por isso temos hoje a poesia de Leminski e os desenhos ótimos do Solda, além de seus textos de humor de alta qualidade e também sua poesia feita de habilidosos jogos de palavra, com as quais ele provoca melancolia e risadas, às vezes ao mesmo tempo.

Conheci mais o Solda, não tanto quanto eu gostaria, mas o suficiente para perceber como é verdadeira aquela definição de quem tem gente que é genial no que faz, mas é muito mais ainda na conversação. Já disse que o Solda é bamba em variadas artes, mas conversando é um espetáculo. O Leminski, com quem tive pouco contato, também tem fama de ter sido um ótimo papo. Imagino como foi bom os dois fazendo dupla de criação numa agência, passando o dia e muitas vezes também parte da noite trocando idéias e provocações.

É claro que a relação intensa entre eles teria de criar influências mútuas e até resultar em alguma confusão de autoria. Essa imagem que publico, por exemplo, eu sempre julguei que fosse uma criação do Leminski. Faz tempo que acho a sacada muito boa, mas pensei que fosse um auto-retrato. Achava que o Leminski tivesse apenas pedido pro pro Solda fazer com sua letra ótima de cartunista a legenda bem sacada embaixo da montagem fotográfica também muito boa.

Mas a história não foi assim. A criação é do Solda. Mas deixa ele contar como foi a coisa. Leiam este texto que tirei agora há pouco do blog dele:

"Trabalhávamos na Múltipla Propaganda, anos 80. Leminski falava o tempo todo que estava aprendendo japonês, para melhor entender a poesia japonesa. Sem nada para fazer, xeroquei a cara do Polaco e coloquei sobre uma gueixa. Tirei uma quantidade enorme de xerox e espalhei pela agência. E a minha brincadeira 'kami quase' saiu no primeiro livro de Leminski, virou nome de site e, tempos depois, ele, o Bandido que Sabia Latim, contou-me que Haroldo de Campos havia considerado a montagem 'uma descoberta genial'. Solda"
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POR José Pires

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