Afinal vi a entrevista de Diogo Mainardi no
programa Roda Viva, da TV Cultura. Prefiro assistir assim, no site da
emissora, onde o ritmo fica sob minha direção, inclusive com a
possibilidade de rever de imediato o que mais gostei ou não compreendi
direito.
Há dois anos Mainardi mudou-se para Veneza com a família. Passou por aqui apenas para caitituar o livro “A queda”, escrito sobre seu filho de dez anos. O menino nasceu com paralisia cerebral, causada por um erro grosseiro no parto em um hospital veneziano.
A mudança de Mainardi para Veneza teve a ver com também com isso. Passados oito anos, a família ganhou um processo contra o hospital. Como os oito milhões de reais da indenização asseguram o futuro do filho, Mainardi resolveu ficar “sem fazer nada”, como ele diz fazendo graça durante a entrevista.
Sempre é interessante ouvir Diogo Mainardi, mas o programa desperdiçou um bom entrevistado. O que rendeu de melhor foi por conta dele, que em determinados momentos puxava um bom assunto. Mas nem assim os entrevistadores se tocavam do tema que aparecia espontaneamente.
Em razão da sua forma de escrever, enquanto esteve no Brasil Mainardi acabou encarnando um personagem brigador e irônico. Neste novo livro ele se expõe de forma diferente, mais humano, ocupado em viver profundamente o drama do filho. Havia uma chance do Roda Viva ter mais a ver com isso, trazendo para nós o ser humano que nunca apareceu na coluna da Veja. Mas não apareceram perguntas para desentocar este novo Mainardi. Teve apenas uma ou outra rápida excessão, como no momento da lembrança do amigo Ivan Lessa, que ele classifica como a pessoa mais importante na sua formação intelectual.
Outra coisa que me chamou a atenção no programa e que também não despertou interesse algum nos entrevistadores foi a menção de Mainardi ao altíssimo custo de vida em São Paulo. Foi no primeiro bloco do programa, mas nenhum dos presentes parece ter percebido. Ele disse que estava “escandalizado” com os preços e que hoje não conseguiria viver “nem 12 dias” com o que ganhava há dois anos atrás.
Não é diferente do que acontece em outras cidades brasileiras, cada qual evidentemente em seu padrão econômico. O amalucado Brasil é um país onde também os preços enlouqueceram. Mas parece que o brasileiro gosta. Dilma está aí com alta popularidade e o Lula, que Diogo Mainardi até achava que iria cair, também continua a falar suas baboseiras com o mesmo ar de mestre de antes.
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POR José Pires
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