Um
dia ainda vamos saber a causa de ter dado errado o plano do PT em
relação ao julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal. Os
petistas vinham tranquilos até meses atrás quando afinal os juízes do
STF resolveram encarar o processo. O melhor termômetro para notar que
algo estava sendo arranjado para que pelo menos os maiorais não fossem
condenados era o comportamento do ex-presidente Lula. Ele não
demonstrava nenhuma preocupação. E o Lula só fica desse jeito quando o
mundo está girando a seu favor. Do contrário ele fica azedo, deixa de
falar com a imprensa, some do noticiário por semanas. E dizem que faz o
cotidiano de seus subalternos virar um inferno, já que na intimidade ele
não é essa doçura da propaganda. E Lula estava animado até os juízes
começarem a se debruçar sobre o processo. Era todo prosa até mesmo
quando um jornalista trazia o mensalão para a conversa.
Outro
que demonstrou que os petistas tinham razões de sobra para serem
otimistas quanto ao andamento do processo foi Delúbio Soares, o
ex-tesoureiro do PT. No final de 2005 ele chegou a dizer que o caso
acabaria virando “piada de salão”. Apesar de transitar entre os graúdos
do partido e ter um papel expressivo no esquema, Delúbio não faz parte
da chefia. A razão de sua tranquilidade só podia ter por base o que ele
deve ter ouvido nas altas rodas do partido e do governo.
Mas
no STF o mensalão não está com cara de piada de salão. Então vem
batendo o desespero nos petistas. Hoje Gilberto Carvalho, da
Secretaria-Geral da Presidência e que estava ao lado de Lula e José
Dirceu quando o esquema foi descoberto, confessou que está de coração
partido. Ao pedido dos jornalistas para que comentasse a situação
complicada de José Dirceu ele respondeu: “A dor me impede de falar,
neste momento, desta questão”.
Carvalho
estava na abertura da exposição das obras do italiano Michelangelo
Merisi Caravaggio, em Brasília. Caravaggio é um pintor do século XVI e
início do XVII que ficou conhecido por colocar a verdade acima da beleza
e foi bastante criticado pelos acadêmicos da época por procurar
incorporar o gesto verdadeiro na pintura, em oposição às encenações que
eram mais bem vistas pelas autoridades religiosas. Foi até censurado por
isso, mas no final seu pensamento acabou prevalecendo e até
contribuindo para a formação do que hoje é a Igreja Católica.
É
claro que aqui já estou indo para uma interpretação pessoal. Não tenho
dados para saber se Gilberto Carvalho conhece algo de Caravaggio. Ele
podia estar na inauguração da exposição por mera formalidade. E apesar
de ser um ex-seminarista, pode ser que ele não tenha prestado maior
atenção a este grande pintor religioso. E Carvalho também não me parece
um sujeito a quem a verdade emocione de maneira honesta.
Mas
podemos relacionar a dor que ele sente à obra deste pintor do qual se
conta que era um grande atrevido também em sua vida pessoal. Os petistas
esperavam um STF que viesse com um formalismo que disfarça com rituais e
maneirismos a falta de vigor para encarar a vida de forma realística e
trazendo o mesmo padrão clássico que nunca toca com vigor verdadeiro nos
atos humanos. O PT não estava preparado para uma Corte que neste
julgamento do mensalão está mais para um Caravaggio.
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POR José Pires
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Imagem: Na impressionante tela de Caravaggio (pintada em 1600), São Tomé mete o dedo nas chagas de Cristo para crer que ele de fato ressuscitou.
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