O
apoio do prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, a Barack Obama pode
ser visto como uma das boas indicações do crescimento da consciência da
necessidade de agir com prevenção para que o planeta tenha um futuro
diferente das previsões catastróficas que já mostram que estão à
caminho. O apoio de Bloomberg foi divulgado cinco dias antes da votação,
que ocorre hoje. Para justitificar a decisão, ele citou a importância
da atuação de um governante como Obama para o enfrentamento dos
problemas climáticos que já se apresentam. Nesses dias o mundo viu o
furacão Sandy arrasar Nova York e parece que a tragédia aguçou a
preocupação do prefeito com os efeitos da mudança do clima no mundo.
No
dia do apoio a Obama a cidade mais rica do planeta estava tomada pela
água, com vastas áreas sem iluminação e a população fazendo fila em
postos para comprar combustível. Havia o risco de uma invasão por ratos.
O prefeito elogiou a atuação do governo federal na emergência exigida
pela destruição feita pelo furacão e falou também dos avanços de Obama
na prevenção aos efeitos das mudanças climáticas. O furacão que caiu
sobre a cidade trouxe um problemão para Mitt Romney. Ele vinha dizendo
que a atuação em situações desse tipo devia ser transferida do governo
federal para os estados. Obama defendia o contrário. As necessidades
criadas pelo furacão forçaram o republicano a mudar de posição.
O
prefeito de Nova York hoje é um independente, mas no passado esteve
alinhado com o Partido Republicano. Por ele ser um conservador é que
destaquei a importância do seu apoio escorado em preocupações
ecológicas. Isso pode ser uma demonstração de que o tema finalmente
começa a ser percebido com mais respeito mesmo em setores ideológicos
que até agora menosprezavam os riscos produzidos pela ação humana sobre o
planeta. E mesmo que o desvio seja um fator meramente político,
Blomberg deve estar agindo em conformidade com o que sente na opinião
pública americana e isso não deixa de ser também muito importante.
Não
é possível avaliar o peso que a ecologia pode ter nesta eleição, mas
com o ritmo cada vez mais acelerado da destruição ecológica no mundo o
tema deveria ocupar o centro dos debates. Não vou entrar na polêmica
sobre o aquecimento global. Sei que muitas pessoas respeitáveis
discordam em pontos importantes desta questão, que não me parece uma
discussão prioritária em razão dos riscos que já temos pela frente.
O
fato essencial é o esgotamento dos recursos naturais, cujo uso precisa
ser equilibrado com urgência ou então vão aparecer problemas bem graves e
dos mais variados em menos de duas décadas. Pensem num planeta com a
metade do petróleo que temos agora e com a água escassa e terão uma
visão das dificuldades econômicas que estaremos enfrentando. Isso é para
logo e não podemos chegar lá com esses hábitos de agora, senão será o
caos.
A
polêmica sobre os aspectos científicos do aquecimento global desvia a
atenção de perigos urgentes. Vou propor uma forma simples de análise. Em
qualquer cidade que você estiver, tente imaginar seus arredores dentro
de poucos anos. Em quase todas elas, no ritmo atual de destruição
ecológica uma criança hoje com dez anos terá um local difícil para viver
quando estiver na idade madura dos quarenta anos. Este é o nosso
problema imediato que não pode ser atrapalhado pela polêmica científica
sobre o derretimento de geleiras.
É
preciso equilibrar o gasto dos recursos naturais e isso tem que ser
feito antes de tudo nos Estados Unidos, país que não só consome recursos
naturais de forma impressionante como também é responsável pelo
espalhamento da cultura do desperdício pelo mundo. Se não é possível
brecar o gigante, ao menos é preciso desacelerá-lo. É claro que isso
começa na economia e é aí que a administração Obama fez alguma
diferença. Ainda é pouco, mas é bastante para um país que não vinha
fazendo nada nas mãos dos republicanos. Com eles novamente no governo
voltaria toda a cultura da gastança que deu no tsunami da crise, com a
consequente destruição ecológica produzida por uma economia predatória.
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POR José Pires
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Imagem:
Capa da revista New Yorker desta semana mostrando com humor como deve
ser a votação em Nova York. A revista publicou um editorial nesta edição
com declaração de apoio a Obama.
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