sábado, 21 de fevereiro de 2015

País do futuro e sem alforria

Não existe crime trabalhista pior que o trabalho escravo. Condenar tal sujeira nem é uma questão de ideologia, de ser de esquerda ou de direita. É uma questão de respeito humano a condenação de quem desrespeita de tal forma os direitos do trabalhador, acabando por ser enquadrado num crime repulsivo como este. Do governo de um partido dito “dos trabalhadores” esperava-se maior rigor ao menos em questão trabalhista tão grave, mas a verdade é que o PT fez pouco também neste tema. Após doze anos de governo o trabalho escravo ainda é um problema muito grave no Brasil, agravado ainda mais nos últimos tempos com as levas de imigrantes clandestinos que entram no país e aqui ficam sem defesa alguma contra exploradores, noutra incompetência séria do governo do PT.

Um dos recursos para coibir este crime vinha sendo o veto de empréstimos em bancos públicos para empresas condenadas administrativamente por trabalho escravo. Esta “lista suja” é de responsabilidade do Ministério do Trabalho. Porém, o “governo dos trabalhadores” agora liberou os cofres públicos para empresários capazes até dessa degradação da condição do trabalhador.

No BNDES e na Caixa Econômica Federal já foi abolida a consulta à “lista suja” do trabalho escravo para empréstimos. O Banco do Brasil provavelmente seguirá a conduta, pois não chegou a dar resposta para jornal "Folha de S. Paulo", que nesta quinta-feira publica matéria sobre este assunto. Se o banco estatal não se prontificou a esclarecer uma questão tão importante pode-se supor que estejam querendo fugir de responsabilidades junto à opinião pública. Até prova em contrário, aí tem coisa.

A suspensão da “lista suja” pelos bancos do governo do PT ocorreu depois do Supremo Tribunal Federal acatar pedido de incorporadoras imobiliárias. Isso mesmo, grandes incorporadoras imobiliárias que lucram mais do que qualquer outro tipo de empresa no país e que se beneficiam não só com farta dinheirama pública como também com facilidades das mais variadas garantidas por estados e municípios, são transgressoras de direitos básicos de seus trabalhadores. A imposição de condições muito parecidas com a escravidão não é um problema restrito aos grotões do território brasileiro. O crime é praticado logo abaixo dos logotipos de grande incorporadoras imobiliárias que brilham na noite das cidades brasileiras. Até no projeto "Minha Casa, Minha Vida" o trabalho escravo existe.

A queda da “lista suja” veio de uma facilitação do ministro Ricardo Lewandowski, não à toa um juiz elevado à categoria de herói brasileiro pelo partido de José Dirceu e outros políticos condenados no mensalão. Lewandowski, decidiu sozinho durante o recesso do Judiciário, concordando com o argumento das incorporadoras de que a portaria que trancava a eles os cofres públicos exige uma lei que a respalde. Acontece que não são pobres inocentes que vinham até agora recebendo esta punição. Segundo a Folha, “para entrar na lista, é preciso que os recursos das empresas tenham transitado em julgado (recebido resposta definitiva do ministério)”. Além disso, a meu ver, para sair da lista é muito fácil: basta pagar as multas decorrentes e passar dois anos sem reincidir. Não dá para ter outra interpretação sobre uma ação dessas, que recebeu o apoio de Lewandowski, que essas empresas querem garantir o direito de reincidir num crime.

Este nosso “país do futuro” dá até tristeza. Até um problema antigo como a escravidão segue firme nesses tempos atuais, obrigando o brasileiro a ocupar seu tempo com a preocupação com mais esta, dentre tantas outras deformidades históricas. Parece que ainda estamos à espera da abolição da escravidão. Mas talvez ainda seja preciso antes proclamar a República.
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POR José Pires

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