quinta-feira, 17 de setembro de 2015

A degeneração premiada

O jornal britânico "Daily Mail" publicou uma matéria na última terça-feira sobre "sorteios" de meninas brasileiras de pouca idade, inclusive crianças de 11 anos, em depravada promoção feita numa cidade do interior da Bahia, a pequena Encruzilhada, de cerca de 20 mil habitantes. É um bingo semanal, cujo prêmio é o uso sexual do ser humano posto em sorteio. A matéria do jornal britânico traz o espanto do estrangeiro com tamanho absurdo, mas é claro que abusos sexuais de menores já são um fato comum em nosso país. O jornal informa que o sorteio de meninas na cidade baiana já era tão conhecido que atraía homens de toda a região. Dizem que com menina virgem o bilhete era mais caro.
O "sorteio" é um detalhe da monstruosidade, mas o uso abusivo de seres humanos está realmente disseminado neste país e não só no aspecto sexual. E também não é restrito às classes sociais mais baixas e nem aos chamados grotões do interior. A matéria traz na internet um “tour” do repórter pelos ambientes de prostituição também na capital de Pernambuco. E sabemos que a violentação na vida do brasileiro é geral e não está só na prostituição. É opressivo o cotidiano de quem mora em localidades pobres em cidades grandes como Rio ou São Paulo e tem sua existência acossada por bandidos e policiais. Não é difícil saber do quanto deve ser difícil criar os filhos nesses lugares, até porque de uma forma ou outra o aviltamento de crianças e jovens já atinge qualquer classe social nas cidades brasileiras. Segundo o “Daily Mail”, o Brasil já tem a segunda maior taxa de prostituição infantil no mundo.
Essa relação de indignidade humana tem seu envolvimento com a imoralidade política que toma conta do país. Recentemente tivemos a prisão de um assessor especial da senadora petista Gleisi Hoffmann, acusado de ter relações sexuais com menores de idade, usando para isso o cargo de prefeito numa cidade do interior do Paraná. Ele está na cadeia até hoje. O assessor de Gleisi foi preso quando trabalhava com ela na Casa Civil, ao lado do gabinete da presidente Dilma. Ainda no Paraná, em corrupção descoberta pelo Ministério Público no governo do tucano Beto Richa, foi encontrado também este laço da política com o abuso sexual de menores. Um assessor direto, que até viajava a trabalho com o governador, foi acusado de abuso de menores. Fiscais da receita estadual achacavam empresários e também faziam farras sexuais com menores de idade.
Como se diz por aí, o exemplo vem de cima. Tivemos até recentemente um presidente que zombava publicamente de regras e leis e cujo partido — o famigerado PT — e grupo político está até hoje no poder. O Lula (ou Brahma, outro cognome) tirava sarro de leis ambientais e outras leis e regulamentos éticos. Havia quem achasse engraçado, mas eu já dizia na época que todo abuso administrativo acaba abrindo espaço para a degeneração de todas as relações sociais. Isso termina atingindo nossas famílias e nossas crianças. Estamos ainda hoje sob poderes políticos que tanto no executivo quanto no legislativo sustentam-se na imoralidade e vivemos debaixo de uma cultura sob o domínio executivo de gravadoras, rádio, televisão, imprensa e internet com conceitos baseados meramente no lucro e na satisfação do que tem de pior no suposto desejo do mercado de consumo. Não tem jeito disso não ser decisivo no aumento do desrespeito humano.
Temos estabelecida no Brasil uma cultura grosseira, que violenta e faz uso até jocoso dos sentimentos humanos. Dá para notar isso o tempo todo nas músicas, na TV e no rádio, na internet, enfim em tudo quanto é possibilidade de comunicação e onde o país deveria estar criando coisas de qualidade. Quem já prestou atenção à letra de um funk ou mesmo de uma música desses auto-intitulados "sertanejos" sabe do que estou falando. A mesma coisa pode ser vista na televisão e também na internet. E, como já falei, essa sujeira moral é também da intimidade da política. No final, o resultado é esse relato espantado feito pelo "Daily Mail", quase como um aviso de que devemos negar com todas as forças a aceitação dessas barbaridades como algo normal.
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POR José Pires

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A matéria do Daily Mail

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