Vindo de Cristina Kirchner uma grosseria tem que ser vista dentro da normalidade, porém mesmo no padrão da governante que agravou ainda mais o caráter deletério do peronismo na Argentina, sua ausência nesta quinta-feira na cerimônia de posse de Maurício Macri foi além do limite. Com a atitude mesquinha ela evitou o ritual democrático da transferência da faixa presidencial. Mas a festa dos argentinos foi muito bonita, com a emoção própria das finalizações de um período ruim da vida. E neste caso, além de preencher uma lacuna, como se costuma dizer, a ausência de Cristina serviu para fortalecer ainda mais a sensação da Argentina estar deixando para trás um período nefasto.
Não era à toa que um vizinho que a conhece bem, o ex-presidente uruguaio José Mujica, dizia que “esta vieja es peor que el tuerto”, referindo-se também ao coisa ruim do marido dela, Nestor Kirchner. Isso que ela fez com Macri é coisa de quem não sabe perder e que já havia mostrado que não sabe ganhar. Cristina Kischner teve pessoalmente duas chances para a realização de um projeto político, qualquer um deles, e só promoveu a desgraça em todos os setores da vida argentina. Foram dois mandatos sucessivos, além dela ter recebido o cargo como herança política de um longo tempo anterior de poder de seu marido. O resultado dos governos do casal é um país falido e sem nenhuma estrutura para a necessária reconstrução nacional. Seu sucessor terá que consertar quase tudo, sem ter recebido dela sequer as condições materiais básicas para isso. Como é mesmo que se diz herança maldita em espanhol?
É tudo muito parecido com o que aguentamos aqui, no Brasil, com o mesmo populismo patético e explorador das necessidades das pessoas mais pobres, a cizânia, a roubalheira, a incompetência, além dos sucessivos mandatos que foram impondo gradativamente uma crise moral e econômica sem precedentes. Lula não fez da própria mulher sua sucessora, mas ela se elegeu também por meio de um dedaço. A semelhança está inclusive no final lamentável de um ciclo de governos de despreparados, nesta derrocada de Dilma Rousseff, para quem só falta a definição da data de desocupação do Palácio do Planalto, de onde com certeza ela também irá embora emburrada. Ainda nas parecenças entre nós, a atitude tacanha de Cristina Kirchner faz lembrar o comportamento de João Batista Figueiredo, o general que foi o último ditador do período do regime militar, que caiu fora sem entregar a faixa para o sucessor, José Sarney. Entre Figueiredo e Cristina Kirchner é mais ou menos equivalente o nível de grosseria e desapreço pela democracia.
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POR José Pires
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