sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Cristina Kirchner, uma ausência que não deixa saudades

Vindo de Cristina Kirchner uma grosseria tem que ser vista dentro da normalidade, porém mesmo no padrão da governante que agravou ainda mais o caráter deletério do peronismo na Argentina, sua ausência nesta quinta-feira na cerimônia de posse de Maurício Macri foi além do limite. Com a atitude mesquinha ela evitou o ritual democrático da transferência da faixa presidencial. Mas a festa dos argentinos foi muito bonita, com a emoção própria das finalizações de um período ruim da vida. E neste caso, além de preencher uma lacuna, como se costuma dizer, a ausência de Cristina serviu para fortalecer ainda mais a sensação da Argentina estar deixando para trás um período nefasto.
Não era à toa que um vizinho que a conhece bem, o ex-presidente uruguaio José Mujica, dizia que “esta vieja es peor que el tuerto”, referindo-se também ao coisa ruim do marido dela, Nestor Kirchner. Isso que ela fez com Macri é coisa de quem não sabe perder e que já havia mostrado que não sabe ganhar. Cristina Kischner teve pessoalmente duas chances para a realização de um projeto político, qualquer um deles, e só promoveu a desgraça em todos os setores da vida argentina. Foram dois mandatos sucessivos, além dela ter recebido o cargo como herança política de um longo tempo anterior de poder de seu marido. O resultado dos governos do casal é um país falido e sem nenhuma estrutura para a necessária reconstrução nacional. Seu sucessor terá que consertar quase tudo, sem ter recebido dela sequer as condições materiais básicas para isso. Como é mesmo que se diz herança maldita em espanhol?
É tudo muito parecido com o que aguentamos aqui, no Brasil, com o mesmo populismo patético e explorador das necessidades das pessoas mais pobres, a cizânia, a roubalheira, a incompetência, além dos sucessivos mandatos que foram impondo gradativamente uma crise moral e econômica sem precedentes. Lula não fez da própria mulher sua sucessora, mas ela se elegeu também por meio de um dedaço. A semelhança está inclusive no final lamentável de um ciclo de governos de despreparados, nesta derrocada de Dilma Rousseff, para quem só falta a definição da data de desocupação do Palácio do Planalto, de onde com certeza ela também irá embora emburrada. Ainda nas parecenças entre nós, a atitude tacanha de Cristina Kirchner faz lembrar o comportamento de João Batista Figueiredo, o general que foi o último ditador do período do regime militar, que caiu fora sem entregar a faixa para o sucessor, José Sarney. Entre Figueiredo e Cristina Kirchner é mais ou menos equivalente o nível de grosseria e desapreço pela democracia.
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POR José Pires

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