sábado, 29 de julho de 2017

O bateu-levou de Reinaldo Azevedo e Dallagnol

Já é de algum tempo o estranhamento do jornalista Reinaldo Azevedo com o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da Força Tarefa da Lava Jato, um conflito que se acirrou depois do vazamento de conversas do jornalista com Andréa Neves, irmã do senador Aécio Neves, em episódio recente que inclusive levou à prisão de Andréa e complicou bastante a imagem do senador mineiro, que também quase foi preso.

Reinaldo teve que sair da Veja depois disso. Na conversa descontraída com a irmã e operadora política do tucano ele falava mal de uma reportagem de capa da revista sobre as encrencas de Aécio. Logo foi contratado pela Rede TV, onde agora tem seu site. Dando continuidade à sua encrenca com Dallagnol, nesta semana ele deu um golpe certeiro que pode não ser o nocaute do procurador, mas com certeza foi um xeque mate para o qual até agora Dallagnol não descobriu um lance para se safar. E bem que ele tentou. Reinaldo descobriu que o coordenador da Força Tarefa prestou concurso para o cargo de procurador em 2002, mesmo ano em que colou grau. Legalmente isso não é permitido. Ele só poderia ter feito o concurso dois anos depois de formado.

O jornalista apresentou comprovações da ilegalidade. Dallagnol já publicou uma resposta. As explicações do procurador não convencem no aspecto moral, ainda que a sua permanência no cargo tenha sido garantida pela Justiça, conforme ele afirma em texto muito superficial para um assunto tão grave. A nomeação de Dallagnol foi garantida por uma liminar, a partir de uma ação judicial. O advogado foi o pai de Dallagnol, procurador de Justiça aposentado do Paraná. Ainda segundo Reinaldo, a Advocacia Geral da União recorreu e em 2004 o Tribunal Regional Federal da Quarta Região empregou a teoria do fato consumado. O recurso teve uma decisão monocrática do Supremo mantendo Dallagnol no MPF. Numa resposta muito malcriada ao jornalista, até seu colega de Força Tarefa, o procurador Carlos Fernando, concorda que Dallagnol assumiu o cargo “mesmo não tendo dois anos de formado” e que isso só se deu com o processo impetrado no TRF de Porto Alegre contra essa exigência.

Bem, não é por uma coisa dessas que vamos investir contra a Lava Jato e muito menos desmerecer o que Dallagnol fez até agora, mas sem dúvida é muito discutível a moralidade deste começo de carreira. Além disso, a acusação pesa ainda mais em razão da excessiva exposição do procurador na mídia, que assumiu por vontade própria um papel de ombudsman dos problemas brasileiros. Até aumento de combustíveis está sob seu crivo. Quem assume imagem de paladino de tantas causas tem por conseqüência a obrigação de maior responsabilidade com a ética pessoal, não é mesmo? Não sou eu quem vai censurar a participação social de ninguém, mas em certas situações e dependendo do cargo pessoal, menos Facebook e menos Twitter podem fazer muito bem. No geral, o efeito das aparições de Dallagnol (nas quais se destaca aquela famosa palestra do Power Point) abre espaços para os inimigos da Lava Jato.

Reinaldo Azevedo também é outro exagerado. Sua megalomania às vezes dá até vergonha alheia. A excitação e fascínio com a própria coragem e inteligência ficou maior depois da fama que alcançou em programas de rádio na Jovem Pan, o que comprometeu inclusive a qualidade de seu texto. No entanto, nesta polêmica com Dallagnol suas acusações estão bem fundamentadas. Independente das fontes que possam ter levantado para ele o grave deslize na carreira do procurador, ele obteve um furo de jornalismo. Sei que Reinaldo tem lado nesta batalha com a Lava Jato, apesar dele ainda bradar uma imparcialidade que ficou no passado. A minha opinião é de que ultimamente sua pontaria jornalística atinge muito mais as qualidades positivas da Lava Jato do que os excessos ou estrelismos que não fazem bem à Justiça e muito menos à democracia. Mas acompanhemos a briga. Para uma disputa que teve até vazamento de áudios de investigação policial os lances seguintes prometem muita emoção.
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POR José Pires
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Link 1 - Dallagnol virou procurador contra o que diz a lei              

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