Nesta sexta-feira, todos os bispos do Chile pediram demissão ao papa Francisco, forçados por um escândalo de pedofilia e abusos. Em janeiro, quando o papa esteve no Chile eu escrevi sobre este assunto, falando das manifestações de protesto durante a visita e dando algumas informações sobre os abusos cometidos contra jovens e crianças. Os abusos vêm desde papados anteriores, de João Paulo II e Bento XVI, que nunca trataram abusos sexuais dentro da Igreja com o devido rigor. Ao contrário, procuravam acobertar o problema.
Agora houve uma investigação na Igreja chilena conduzida por dois emissários papais, que resultou em um relatório com o relato de “numerosas situações de abuso de poder, de autoridade e abusos sexuais”. Bispos chilenos são apontados como coniventes com os crimes, tendo inclusive destruído provas comprometedoras.
Segundo o documento, “padres suspeitos de suspeitos de homossexualidade ativa” foram contemplados com cargos em lugares, como seminários, onde podiam assediar jovens e crianças. Religiosos expulsos de suas ordens depois de denúncias eram acolhidos em outras dioceses, com “um contato cotidiano e direto com menores” e a possibilidade de continuarem com o assédio sexual.
“Será irresponsável da nossa parte não cavar para encontrar as raízes e as estruturas que permitiram que esses acontecimentos se produzissem e perpetuassem”, disse o papa Francisco. É uma declaração que para mim soa como uma crítica ao que vinha sendo o comportamento da Igreja Católica em relação a esses predadores internos. Tomara que ao contrário de como sempre foi, agora de fato venham atitudes práticas muito sérias e rigorosas. Republico abaixo o post de janeiro deste ano. Inclui o link de um filme sobre escândalo parecido ocorrido em Boston, nos Estados Unidos, durante o papado de João Paulo II, que ignorou os abusos sexuais cometidos dentro da Igreja americana.
No Chile, o papa Francisco pediu desculpas pelos abusos sexuais cometidos por padres contra crianças. Além da relação com uma questão grave da Igreja Católica em todo o mundo, seu pedido está ligado diretamente ao país que está visitando, onde é grande o número de denúncias desse tipo de abuso, com uma forte reação de chilenos organizados para exigir das autoridades eclesiásticas mais rigor contra os abusadores, com o fim do encobrimento a este grave crime.
Na chegada, o papa enfrentou protestos de ativistas que exigem maior compromisso da Igreja contra os abusadores. O estado de ânimo dos chilenos quanto a esse problema pode ser resumido no popular menos palavras, mais ação. Uma das vítimas de abuso rechaçou o pedido de desculpas de Francisco. O jornalista Juan Carlos Cruz, que denunciou há alguns anos ter sido abusado por Fernando Karadima, sacerdote de grande influência na igreja chilena, disse que são insuficientes as palavras de Francisco, já que os “bispos encobridores” permanecem em seus postos.
Uma queixa persistente quanto ao problema é o fato das vítimas não serem ouvidas pelas autoridades da Igreja, que se contentam com versões de pessoas coniventes com os abusos. Neste caso, o jornalista Cruz cita Ricardo Ezzati, arcebispo de Santiago, e Francisco Javier Errazuriz, arcebispo emérito. Em suas viagens, o papa Francisco tem se negado a receber vítimas de abusos, como em recente visita ao México. As vítimas pediram audiência e ele negou. No Chile ele mantém a mesma atitude. Segundo denúncias, cerca de 80 religiosos estão envolvidos em casos de abusos no país.
A experiência demonstra que a Igreja Católica tem sérias dificuldades em punir com rigor seus escândalos internos. Por meio de ações externas é que são revelados os problemas e se abrem canais para que as vítimas busquem justiça e sejam acolhidas até para expressar suas dores. Um caso emblemático do acobertamento histórico desse crime foi o do bispo de Boston, Bernard Law, que encobriu a ação de padres abusadores durante anos nesta cidade americana. Os crimes só foram descobertos depois do jornal The Boston Globe publicar uma série de reportagens investigativas sobre o tema. Sobre isso, foi feito um filme muito bom, “Spotlight”, que ganhou o Oscar de melhor filme em 2016. Pode ser visto na internet, com dublagem. Publico o link abaixo.
Em vez de levar os padres à justiça comum, o bispo Law apenas mudava-os de paróquia. Um dos criminosos, o padre John Geoghan, foi declarado culpado de abusar de 130 menores, nas diferentes paróquias pelas quais ia passando. Depois das reportagens do jornal de Boston, Bernard Law, que morreu aos 86 anos em dezembro do ano passado, foi obrigado a renunciar ao cargo em 2002. Na época ele também pediu desculpas, mas, como sempre ocorre, não recebeu punição alguma. Foi para a Itália. Era estreita sua relação com o papa João Paulo II, cujo pontificado foi nulo no combate aos abusos de menores.
Law não perdeu a influência na igreja. Chegou a participar do conclave que elegeu o papa Benedito XVI, em 2005, de quem era amigo desde quando este era prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e atendia pelo nome de Joseph Ratzinger. Poucos anos depois de ter que sair corrido de Boston com o escândalo, Law ainda recebeu a honra de oficiar uma missa na Basílica de São Pedro. No mês passado, o papa Francisco fez questão de comparecer ao seu enterro.
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POR José PiresVeja aqui o filme Spotlight
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