quinta-feira, 2 de maio de 2019

Verissimo e Olavo de Carvalho, juntos no gosto pelas graças do poder

Com o Brasil embolado numa decadência sem precedentes é claro que os critérios de honra ao mérito também teriam de descambar para níveis muito baixos. Estou falando da condecoração de Hamilton Mourão e Olavo de Carvalho com o grau de Grã-Cruz da Ordem de Rio Branco, a mais alta homenagem do governo brasileiro. Outras 32 pessoas foram agraciadas pelo presidente da República com a medalha.

Nem vou falar do mérito pessoal de Mourão, de Olavo ou dos outros homenageados, mas a verdade é que recebem a medalha meramente porque estão ao lado de Jair Bolsonaro. Com todos os presidentes foi desse jeito. Até Michel Temer aproveitou o bocadinho de mandato que pegou de Dilma Rousseff e fez uma festinha com sua turma. E acontece a mesma coisa em todas as instâncias, da mais chinfrim câmara de vereadores aos governos estaduais e até mesmo na iniciativa privada. Paparicar a própria turma é um hábito nacional. O que levou ao descrédito de praticamente toda homenagem pública.

Não há nenhuma forma de reconhecimento oficial no Brasil que não tenha sofrido uma séria desmoralização desta política do compadrismo, que é geral, sem diferença de partidos, ideologias ou qualquer outro tipo de relação. E o engraçado é que todos sabem que essas homenagens não valem nada, exatamente porque para ser agraciado basta ter afinidade com o poder, no entanto quando surge a oportunidade de receber uma medalha todo mundo corre oferecendo o peito.

Mesmo os que promovem para si próprios a fama da independência de qualquer poder e o desapego a veleidades mundanas. É o caso de Olavo de Carvalho, que trombeteia o tempo todo que não está nem aí para esse tipo de coisa, mas pega com todo gosto qualquer naco de reconhecimento falso que lhe oferecem. O guru do Bolsonaro já recebeu até uma comenda da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, concedida pelo então deputado Flavio Bolsonaro, evidentemente com os votos favoráveis daqueles gatunos eleitos no Rio. A homenagem é tão fajuta que o filho do Bolsonaro já havia dado a mesma comenda a um chefe de milícia, atualmente procurado pela polícia.

O processo de homenagens oficiais é tão degenerado no país que nem a Ordem de Rio Branco se salva. Esta mesma medalha recebida de Bolsonaro por Olavo e Mourão já foi dada para Marisa Letícia, a falecida esposa de Lula. Foi entregue por ele próprio em 2010, no segundo mandato como presidente. Lula aproveitou para homenagear no mesmo dia a esposa de seu vice José Alencar. E que não se questione o que ambas fizeram para merecer o galardão. O sistema é o mesmo do filósofo da Virgínia: um padrinho poderoso basta.

Além de agraciar a mulher dele e a de seu parceiro de chapa, o chefão petista também já deu a Ordem de Rio Branco para Luis Fernando Veríssimo. Neste caso foi conferida à homenagem uma ironia interessante, ainda que involuntária. Humorista recebendo medalha é um sinal de total esculhambação de  valores. E também resultou nesse revoluteio histórico, que agora revela que Olavo e Verissimo até que têm suas semelhanças. Cada qual num extremo, mas ambos bastante chegados em um agrado do poder.
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POR José Pires

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