Jair Bolsonaro e Lula vão para o segundo turno, confirmando o que eu afirmava no início da semana passada. Disse então que desconfiava dos números das pesquisas, devido à impressionante demonstração de popularidade de Jair Bolsonaro nas ruas. “Será uma surpresa para mim se Jair Bolsonaro não tiver uma votação expressiva neste primeiro turno”, escrevi neste Facebook. Os institutos de pesquisa erraram longe, especialmente o Datafolha, que curiosamente é o mais prestigiado. Mas será que foi erro mesmo? Digo há bastante tempo que o Datafolha é um criador de pautas para a Folha de S. Paulo, que se espalham depois pela internet e influenciam as eleições. Tampouco dá para levar a sério vários outros institutos, a maioria sem nenhuma transparência, sendo que um deles, o Ibope, que até pouco tempo era sinônimo de prestígio, foi obrigado a mudar de nome. Na última pesquisa davam Lula com 50% e Bolsonaro com 36% dos votos. No final, deu Lula com 48,12%, Bolsonaro ficou com 43,47%. Com a pesquisa, dava-se uma excelente empurrada para frente em Lula e ainda servia para causar desestímulo na militância de Bolsonaro. Esta parte do plano não funcionou. Mas arrasaram com Ciro Gomes e Simone Tebet, que então tinham suas esperanças despedaçadas, para Lula subornar emocionalmente seus eleitores e tomar grande parte dos votos. É com esse discurso que certamente os bolsonaristas entrarão no segundo turno. E neste caso, depois de uma diferença tão grande, não há como tirar a razão da queixa. Agora não é mimimi. Com a volta por cima, Bolsonaro a eleição final com uma militância fortalecida. Entrará na disputa com todo ânimo. Elegeu uma grande bancada na Câmara Federal e teve vitoriosos senadores em estados importantes, como São Paulo e Rio Grande do Sul. Em São Paulo, Tarcísio Freitas vai para o segundo turno à frente de Fernando Haddad, contrariando também as pesquisas. Este primeiro turno comprova que o antipetismo é a grande força eleitoral do país, uma verdadeira alavanca para ganhar votos. Para o oponente. Com Lula como candidato, esta rejeição foi reforçada, servindo para amenizar até um presidente como Bolsonaro, que aprontou tantas maldades no poder, algumas até de uma crueldade desumana. É com Lula, esse político repleto de coisas negativas na vida, que anulam qualquer defeito do adversário, que Bolsonaro vai tentar a reeleição. Ninguém dará ouvidos para pesquisas neste segundo turno. A imprensa também entra desacreditada nesta hora de definir quem será o presidente. O jornalismo, no geral, passou a guiar-se quase que exclusivamente por pesquisas, gradativamente concentrando as matérias em números, sem sequer aprofundar para os leitores o valor relativo de cada uma delas. Em eleição alguma no Brasil se fez tantas pesquisas. E será que foi só coincidência? A produção de pesquisas sempre foi uma forma de candidatos de maior poder econômico e mais dinheiro em caixa influenciarem a formação do cenário eleitoral em seu benefício. Desta vez, os maiorais da política tiveram a cumplicidade da imprensa. Escaparam da cobrança de propostas e esclarecimentos sobre o que fizeram em suas carreiras. Deixaram de dizer ao eleitor o que pretendem fazer em Brasília. Turbinado por pesquisas que estavam erradas ou manipuladas, Lula teve até a arrogância de afirmar que só falaria dos seus planos depois de eleito. As pautas jornalísticas ficaram concentradas na discussão dos números de pesquisas e mesmo neste assunto obsessivo, com matérias superficiais. O efeito foi o de tirar a atenção dos leitores sobre os reais problemas do país. Houve um abandono do debate dos problemas brasileiros, além do desmerecimento absurdo de várias candidaturas colocadas com menos pontos nas pesquisas. Com a justificativa de que obtinham poucos pontos junto aos eleitores, muitos políticos tiveram espaços negados em debates. Deixaram de ser entrevistados e foram esquecidos no noticiário. Nunca a credibilidade da imprensa ficou tão desacreditada, pela escolha equivocada de dar tanta atenção ao que os institutos diziam. Mas, repito novamente: foi mesmo apenas um equívoco? A votação de Bolsonaro e Lula, completamente fora dos números que davam o tom das pautas jornalísticas durante meses, lança uma suspeição muito forte. E o descrédito deve aumentar muito mais no período de segundo turno, quando os bolsonaristas vão fazer muito barulho. E devo dizer novamente: quem poderá negar-lhes a razão? Além da disputa para presidente, em vários estados o resultado final foi contra o que diziam as pesquisas, desmentindo números que eram tratados pela imprensa como se fossem resultados reais, enquanto as campanhas se desenvolviam, com espertalhões turbinados pelo noticiário favorável. Com esta porção de desacertos pelo Brasil afora e na eleição para presidente, não há como não suspeitar que há meses vários candidatos vinham sendo rebaixados artificialmente. Para mim, foi isso que ocorreu. É óbvio que não existem meios de comprovar esta minha visão, porém o que se apresenta agora faz suspeitar de que deve ter havido uma grave manipulação para derrubar candidaturas, além de estabelecer uma falsa realidade para estimular o eleitor a decidir a eleição no primeiro turno. Desses candidatos surrupiados de forma antidemocrática, um dos mais prejudicados foi Ciro Gomes. Simone Tebet também teve sua candidatura atingida. E foram feitas também outras vítimas, que nem chegaram a levar adiante suas candidaturas, sendo eliminados do processo eleitoral por meio de números que parecem ter sido forjados. Muitos jornalistas foram cúmplices desse despropósito, levando a imprensa a ficar com a credibilidade seriamente abalada.
domingo, 2 de outubro de 2022
Jair Bolsonaro no segundo turno: pesquisas e a imprensa caem no descrédito
Postado por José Pires às 23:08
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