Ora, vejam só: o clima de azucrinação política que o PT costuma impor quando está no poder acaba de transformar Caetano Veloso em lobista no Senado. O artista baiano tem como parceiro Felipe Neto, o youtuber mais rico do país, que fez carreira nas redes sociais batendo forte no PT, para depois aderir à campanha de Lula logo que notou que era por esta via que se abria um caminho de mais audiência e poder . Foi também esta percepção que levou Caetano a atuar agora como influenciador de senador, certamente sugestionado pela esposa e chefe da lucrativa empresa familiar, Paula Lavigne, mas muito mais pela sua notória capacidade de auto-promoção.
A onda que se formou em torno dessa proposta esdrúxula da cultura se imiscuindo diretamente na disputa interna de poder do Senado leva muita gente a embarcar, talvez por ingenuidade, num esquema organizado que basicamente tem como meta abalar a formação de uma oposição consistente no parlamento e, seguindo por esta via, estabelecer um clima de intimidação que se estenda à população. Na cultura, como se sabe, quem não adere à cultura estatal fica fora dos esquemas de investimento espalhados pelo país afora, inclusive em empresas privadas. Só entra se tiver espírito de patota e não de expressão artística.
Que ninguém se engane, isso é jogada velha, do mesmo feitio que se deu ainda há pouco, quando o projeto de poder de Lula e de seu partido juntou o que há de pior na política brasileira para criar um cenário mais fácil para a volta à cena do crime, como bem disse o vice Geraldo Alckmin. Bem, o efeito mais claro da tática foi destruir candidaturas legítimas da oposição progressista a Jair Bolsonaro, com isso prejudicando gravemente a eleição de parlamentares honestos e realmente propositivos. Outra consequência foi a eleição de uma fortíssima bancada da direita. Lula acabou ganhando, mas foi obviamente um tiro no pé do Brasil. Mas o PT não se importa com isso no seu histórico vale-tudo pelo poder.
Agora entra em cena este lobby que pega pesado na eleição do Senado, mas que tem um objetivo mais amplo, na intimidação de qualquer voz que ouse opinar ou tomar uma posição que não esteja validada pela cartilha autoritária da esquerda. Pensemos com lógica: alguém pode imaginar algum senador mudando de voto em razão do que diz ou deixa de dizer Felipe Neto, Caetano Veloso ou qualquer figura da laia desses dois? É claro que na prática a influência é mínima. Ocorre que não é esse o objetivo da onda criada pelo PT, sob o comando de Lula. A intenção é a de demolir reputações. O propósito é acabar com qualquer um que ouse afrontar o projeto de hegemonia da esquerda, hoje com o PT, mas que estende uma cauda longa na história. Os petistas só dão continuidade a um processo perverso, que no passado já teve até gulags, em territórios inóspitos onde o pensamento dissidente trancafiado para morrer.
O pretexto mencionado por esses hipócritas é o de atingir o bolsonarismo e fortalecer a democracia. Lá vem eles, com sua virtude superior. No entanto, o processo político andou bastante, em largas passadas, de modo que o lobby petista de Caetano, Felipe Neto e demais militantes é para evitar um rumo em desacordo ao interesse do PT, fechado agora com Rodrigo Pacheco. Daí o fogo cerrado que cai sobre senadores que declararam voto para Rogério Marinho. A articulação interna dessa disputa no Senado tem mais a ver com a necessidade do estabelecimento de uma ordem mais produtiva e independente nos trabalhos da Casa, inclusive no aspecto técnico, do que qualquer outra baboseira hipócrita, como a luta contra um fascismo que só existe na cabeça de bravateiros.
O lobby apela para a mais baixa campanha de destruição de reputação. O mote é tachar como favorável ao “bolsonarismo” quem vota em Rogério Marinho. É claro que a difamação só atinge a reputação de político sem vínculos com Bolsonaro nem com Lula. É provável que políticos mais decentes é que acabem sendo prejudicados com a pesada campanha disseminada nas redes sociais — Felipe Neto é dono de uma empresa poderosa nesta área, com ampla experiência tecnológica de comunicação, por isso tem poder estratégico e econômico para fazer um estrago.
Um exemplo do absurdo clima imposto por mais este período petista de poder está no ataque ao senador Alessandro Vieira, uma surpresa positiva das mais admiráveis entre os políticos eleitos em 2018. Não haveria o debate transparente sobre a pandemia na CPI da Covid se não fosse a interferência precisa de Vieira, que entrou no STF exigindo a instalação da investigação no Senado. A CPI estava trancada na gaveta de Rodrigo Pacheco, junto com outras investigações importantes. Sou de opinião também de que sem a sua atuação na CPI a qualidade política e investigativa seria muito baixa. Foi principalmente através das suas palavras e ações que a comissão do Senado teve produtividade e a atenção da opinião pública.
Foi no tema da CPI da Covid que Felipe Neto atacou agressivamente Alessandro Vieira nesta segunda-feira, criando na prática uma detestável fake-news. Vejam o que ele escreveu.
““Senador @_AlessandroSE (Alessandro Vieira), você se destacou na CPI da COVID contra a gestão genocida de Bolsonaro. Agora apoia o capacho dele para a presidência do Senado? Essa vergonha manchará para sempre sua imagem. Ainda dá tempo de mudar”.
Como eu já disse, sem a ação de Alessandro Vieira no STF não haveria CPI, que estava trancada na gaveta por Rodrigo Pacheco. Mas vejamos como o próprio senador por Sergipe colocou os fatos no seu devido termo.
“Felipe, aquela CPI seria engavetada pelo Pacheco se eu não fosse ao STF brigar por ela. Acredito que mais dois anos de Alcolumbre/Pacheco é ruim para o Senado e para o Brasil, mas respeito sua opinião. A eleição presidencial acabou, e a tal base bolsonarista é muito pequena no Senado”, foi a resposta dele a Felipe Neto.
É claro que o youtuber já sabia disso, ao fazer a postagem. Felipe Neto é um empresário muito rico, cercado de uma equipe de profissionais da comunicação, embora finja que é um garoto de cabeça independente postando nas redes sociais — o “garoto”já tem 35 anos. E os ataques não cessam com a explicação do senador. Pra começar, o post mentiroso já foi compartilhado aos milhares. E depois virão ainda outras insinuações, mais manipulações da realidade, num ritmo que Felipe Neto pode muito bem dar continuidade, afinal, sua empresa é poderosa, além de ter a parceria da máquina petista.
O objetivo é mesmo o de intimidar, sendo que, no caso de políticos como o senador atacado, procuram a anulação de uma pessoa brilhante que pode ter influência sobre a opinião pública e talvez até fazer o Senado começar de fato a trabalhar. O projeto hegemônico do PT não aceita nenhuma opinião política independente do domínio de Lula e seu partido. Neste plano não cabe nenhuma instituição funcionando fora das engrenagens que movimentam a favor apenas de um lado.
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Por José Pires
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