quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

Mais um plano infalível de Jair Bolsonaro e seus seguidores aloprados

O bolsonarismo vai se enterrando cada vez mais, com as denúncias de conspirações que surgem, todas até agora tão inacreditáveis que, francamente, esse pessoal devia ter vergonha até de falar sobre planos tão absurdos. A coisa já estava tragicômica com a intenção de dar um golpe sem a participação das Forças Armadas, apelando para baderneiros destruidores de vidraças e obras de arte. Nunca se viu nada igual, nem nas Repúblicas de Bananas da América Central.


Mas eis que nesta quinta-feira, ainda pela manhã, apareceu a notícia de que havia um plano infalível de dar esse golpe com o senador Marcos do Val, uma figura que se elegeu pelo estado do Espírito Santo na doidíssima eleição de 2018, carregando a bandeira da liberação de armas e grudado na imagem de Jair Bolsonaro. Do Val fazia sucesso entre a direita em vídeos no Youtube sobre armas e defesa pessoal, resolveu disputar uma cadeira no Senado e o negócio deu certo.


O senador tinha intimidade suficiente com Jair Bolsonaro para ser convidado a visitá-lo no Palácio da Alvorada, onde o então presidente pediu seu apoio em um golpe para se manter no poder, impedindo a posse de Lula. Como se diria na América Central, el enredo es mucho loco. Conforme a denúncia do político bolsonarista, Bolsonaro pediu que ele gravasse o ministro Alexandre de Moraes, do STF. O pedido foi numa reunião feita 21 dias antes do final do mandato do presidente. Do Val contou essa história em uma live feita na madrugada com Arthur do Val (Mamãe Falei) e Renan Santos, do Movimento Brasil Livre (MBL), anunciando que “a bomba” sairia na edição da revista Veja deste final de semana.


O que tem de comprovado até agora é apenas essa mancada com o pessoal da Veja. Ele queimou o furo de reportagem. A revista teve que correr para publicar em seu site a matéria na manhã de hoje. A versão do plano é a seguinte: “Alguém de confiança do presidente se aproximaria do ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE, devidamente equipado para gravar as conversas do magistrado com o intuito de captar algo comprometedor que servisse como argumento para prendê-lo. Esse seria o estopim que desencadearia uma série de medidas que provavelmente atirariam o país numa confusão institucional sem precedentes desde a redemocratização”.


Ainda conforme a Veja, na reunião no Palácio da Alvorada, Bolsonaro deu detalhes da operação. O deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) também estava presente, o que torna a conspiração uma tarefa corajosa. Claro, pois quem seria tão pateta de arquitetar uma missão tão arriscada? O deputado deve ser hoje em dia uma das figuras mais vigiadas do país. No encontro secreto, Silveira introduziu o assunto dizendo ao senador que Bolsonaro tinha um plano para “salvar o Brasil”. Não é que se possa ter alguma esperança de um lampejo de inteligência em Bolsonaro, mas será que um golpe de Estado não exigiria a liderança de figuras que despertassem menos atenção?


A confissão emocionada do senador aos dois integrantes do MBL na madrugada aconteceu depois de ataques que ele sofreu nas redes sociais por ter cumprimentado e abraçado Rodrigo Pacheco pela vitória sobre Rogério Marinho na eleição para presidente do Senado. Do Val garante que votou em Marinho, mas foi execrado por bolsonaristas nas redes sociais e apontado como “traidor”.


A Veja conta que depois da reunião no Alvorada com o presidente, Silveira enviou uma série de mensagens cobrando uma resposta do senador. Ainda na reportagem, afirma-se que o deputado reforçou que o plano era muito sigiloso. “Nem o Flávio saberá”, ele disse, se referindo ao filho do presidente, Flávio Bolsonaro. “Estarei em QAP até o comando do 01 para irmos até lá”, acrescentou Silveira. No jargão policial, QAP significa “na escuta”, de “prontidão”. Repararam na astúcia?


Imaginem Silveira e do Val indo até o prédio do STF para arrancar algumas palavras comprometedoras de Alexandre de Moraes. Parece mais complicado do que qualquer uma das inúmeras conspirações até agora espalhadas pelos bolsonaristas, com planos amalucados que exigem a combinação de tanta gente, de ajustes geográficos, de tempo e até de energias metafísicas, que chegam a parecer comédia. Está certo que neste caso o sucesso do plano exigiria apenas um otário, mas eu tenho a impressão de que o ministro Alexandre de Moraes não é uma boa escolha para esse papel.


A revista publica várias mensagens que teriam sido trocadas entre Silveira e do Val, mas até o momento não surgiu nenhuma prova da participação de Bolsonaro. Vamos esperar mais notícias desta trama ardilosa, que até agora tinha de bom apenas a promessa do senador Marcos do Val de que ele renunciaria ao mandato. A gente sabe que no Senado o suplente é sempre mais ou menos da mesma categoria do titular, isso quando não é pior, mas mesmo assim uma renúncia até cairia bem. Mas depois da promessa, ele já está voltando atrás também neste plano.

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Por José Pires


Leia aqui a matéria da Veja

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