Durante uma explicação sobre o que vem ocorrendo no Oriente Médio, depois da invasão ao território de Israel e os massacres cometidos pelo grupo terrorista Hamas, um jornalista da CNN contou que durante uma cobertura estava certa vez em um hospital da Faixa de Gaza, quando próximo ao grupo com que ele conversava de repente abriu-se um alçapão e dele saíram vários membros do Hamas. O jornalista foi o único que ficou surpreso e ficou observando com curiosidade a cena. Para os palestinos aquilo era uma normalidade.
Os alçapões também se abriram por aqui, no Brasil, com uma incontrolável preferência da esquerda pelo Hamas neste embate, com o governo do PT e o próprio partido do Lula expondo enfim sua simpatia pelo grupo que mesmo depois da mortandade cruel. O grude é antigo. Deputados do PT já haviam assinado manifesto de apoio ao Hamas em 2021, com o título “Resistência não é terrorismo!”, posicionando-se contra a classificação do Hamas como “organização terrorista”. Alexandre Padilha e Paulo Pimenta, ministros atuais de Lula assinaram o apoio.
O assessor especial de Lula para assuntos internacionais, Celso Amorim, também contribuiu para a passada de pano para terroristas. Amorim afirmou que "anos de tratamento discriminatório" de Israel contra palestinos levaram ao ataque do Hamas. É uma teoria diplomática tradicional da esquerda, uma cobrança de justiça histórica, neste caso com a justificativa de que vale matar jovens pacíficos em um festival ao ar livre e criancinhas no berço.
No sábado, o Hamas havia mostrado como é sua “resistência”, ao torturar e matar centenas de jovens no festival de música. Nos últimos dias, em vez de condenar e chamar o Hamas do que eles são de fato, o PT ficou atacando os representantes das vítimas, a embaixada de Israel. E o presidente Lula teve a desfaçatez de evitar dizer o nome da organização criminosa, em notas de pêsames à vítimas brasileiras mortas pelo Hamas. Mesmo com vídeos feitos pelos próprios terroristas enquanto massacravam inocentes, Lula ainda mantém-se firme na tese do crime sem autor.
Na quarta-feira ficou escancarado outro alçapão, obrigando o governo petista a demitir o presidente da Empresa Brasil de Comunicação, Hélio Doyle, que publicou um post chamando de “idiota” os apoiadores de Israel. "Não precisa ser sionista para apoiar Israel. Ser um idiota é o bastante", diz a postagem. Com a revelação desse insulto, surgiram uma série de posts anteriores do malcriado, com críticas grosseiras a Israel. E a figura é professor aposentado de comunicação da UnB. Creio que não é necessário falar do que um mestre como este enfiou na cabeça dos alunos durante a formação deles como jornalistas.
Mais episódios foram aparecendo na cobertura nesta guerra, especialmente com a reação do governo de Israel depois dos cruéis massacres com mais de mil mortes de imediato, no sábado, dia 7. Houve um absurdo desequilíbrio na mídia durante esta semana, praticamente desaparecendo as graves razões dos bombardeios à Faixa de Gaza. Parecia até que foi Israel que começou tudo. Recapitulando: primeiro, pessoas foram fuziladas em Israel, enquanto o Hamas lançava cinco mil foguetes no território israelense. Muitas dessas vítimas sofreram humilhações e torturas antes de serem mortas, os terroristas estupraram mulheres antes e depois de mortas, cortaram cabeças, queimaram gente viva, fizeram horrores até a fuga de volta à Gaza com muitos reféns, matando alguns deles pelo caminho.
Com a reação de Israel, mesmo com os avisos antecipados sobre bombardeios, começaram a acontecer os efeitos colaterais da morte de civis do lado palestino. Alertas sobre locais a serem atacados não funcionam com o Hamas. Faz parte da estratégia do grupo fundamentalista islâmico o uso dos palestinos como escudos humanos não só em situações de combate como para camuflar instalações militares e administrativas do esquema de terror. Gaza é um campo de concentração que tem como carcereiros os militantes do Hamas, de modo que neste lugar só é possível fazer o que a organização terrorista permite.
Quando fica sabendo onde será um bombardeio é mais fácil o Hamas encher de civis o local onde vai cair a bomba. Não vão proteger civis, muito menos deslocar a população para longe de riscos. Isso nunca fez parte da sua estratégia. E agora partem também para a guerra de narrativas, enchendo as redes sociais de imagens com crianças sofrendo, expondo corpos das pessoas e o sofrimento de feridos. É uma óbvia política de contra-informação, na guerra de narrativas que sempre dominou qualquer guerra, mas que ficou mais fácil agora, quando basta um celular nas mãos para expor o inimigo como um agente do mal.
Os israelenses poderiam também expor imagens bastante chocantes, muito antes dos mísseis contra terroristas caírem sobre Gaza, logo no começo, com a espantosa ação dos terroristas do Hamas no sábado, dia 7. Mas é uma questão de cultura e de obrigações, políticas e jurídicas, que o governo israelense tem que cumprir. O Hamas é uma ditadura religiosa. Este é o cenário político: um país democrático de um lado deste drama e do outro uma organização de sádicos que age violentamente, inclusive contra seu próprio povo.
Vídeos registrando a violência do ataque a Israel foram feitos pelos próprios terroristas, durante a invasão. Assisti a vários deles, uma das gravações tendo sido feita dentro de um dos bunkers, onde jovens do festival de música se abrigaram para fugir dos criminosos. Nunca mais vou esquecer o pavor dessas pessoas, algumas machucadas. Lembro sempre, nos poucos segundos da gravação, de um moço de pé num dos cantos do abrigo, como o rosto paralisado, em close, com o espanto absoluto de estar vivendo aquela situação inviável.
Foram exibidas imagens feitas pelas Forças Armadas de Israel do que se viu depois da reação do exército israelense, combatendo os terroristas em vários kibutz e salvando jovens nas imediações do festival de música. Porém, nada foi exposto de forma explícita, muito menos corpos de vítimas de violência. Já falei: é uma questão de cultura. Não é difícil imaginar as cenas de horror que foram encontradas em Israel, em casas incendiadas, quartos de crianças metralhados, uma porção de coisas horrorosas feitas pelo Hamas, que demonstram que, além do método calculado, esta organização foi definitivamente tomada por um espírito diabólico que somente com muita ingenuidade pode-se acreditar que é possível regenerar com diálogo e negociação.
Eles não são loucos. Existe uma doutrina nisso, da intolerância, da negação até de aceitar que se possa acreditar em algo fora dessa doutrina. Mas o Hamas não é um exército regular, também não é um partido, muito menos um organismo de Estado que pode servir como referência política ou diplomática. O PT e parte da imprensa fazem de conta que seria possível para Israel estabelecer negociações civilizadas com o Hamas, criando “corredores humanitários” e a defesa da integridade física dos civis. Francamente, para isso não haveria a obrigação de contar com a colaboração dos cortadores de cabeças?
O raciocínio que iguala o único país democrático do Oriente Médio a uma organização que invade quartos infantis e massacra crianças dormindo, se adotado teria que levar inevitavelmente Israel a praticar a diplomacia com o bando de assassinos que matou mais de mil pessoas, primeiro em um festival de música e depois em kibutzes onde judeus guardavam um feriado religioso. Será que não entra na cabeça de nenhum desses virtuosos idealizadores de um improvável acordo que a matança do Hamas só podia ter um propósito contrário a qualquer diálogo razoável?
Mas passamos esta semana assistindo a certas figuras e a imprensa sugerindo ao governo de Israel um recuo dos ataques, quando as autoridades israelenses já deixaram claro o objetivo de eliminar a capacidade militar do Hamas, prendendo ou matando seus dirigentes. Pela lista divulgada até agora, as baixas são grandes entre os dirigentes terroristas. Os bombardeios planejados já demoliram prédios inteiros da organização. É evidente que estão fazendo ruir pelo menos as instalações subterrâneas mais importantes. Mas vá lá: aceitemos que um caminho mais ponderado e pacífico fosse aceitável.
Bem, então os israelenses poderiam desistir de seu país, que estaria anulado na sua segurança em todos os aspectos: na vida pessoal, no trabalho, na economia ou em qualquer outra atividade que proporciona sustentação a uma nação. Para citar apenas um dos sérios problemas criado pelo Hamas, vale perguntar como fica a indústria de turismo, importante economicamente também para os palestinos. Empregos se foram de imediato, lançando na miséria uma população que já não estava bem. Como será restabelecida no local a própria reverência religiosa de três religiões importantes da humanidade?
Nem vou perguntar que forma de “resistência” é essa, pois lançar países em conflitos irresponsavelmente desqualificados é um fator histórico de extremistas. O ataque do Hamas deixou a região em um estado precário de segurança, que se não for restabelecida condenará todos a uma vida à beira do pânico, com um prejuízo ainda mais grave para Israel. Alguém acha mesmo que a partir dos massacres de 7 de setembro, em Israel poderia haver a possibilidade da convivência com a ideia da permanência de um Hamas pronto a atacar de novo?
Me parece claro, até pelo esforço do próprio grupo terrorista na construção deste cenário político que impõe a necessidade absoluta da sua própria destruição, que a possibilidade de uma razoável segurança — pelo menos sem a ameaça permanente de uma força política violenta pronta para o bote traiçoeiro — não tem como ser obtida numa negociação de um acordo de paz em que teria de haver a confiança na palavra de uma organização que corta a cabeça de criancinhas em seus quartos de dormir.
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Por José Pires
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