sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Atentado contra Camus

Cesare Batistti é um criminoso comum. Se os seus colegas brasileiros que pegaram em armas para implantar um regime ditatorial aqui no Brasil tiveram a desculpa de que vivíamos então numa ditadura, o italiano nem pode dizer isso. Quando ele matou pessoas por lá, a Itália vivia uma democracia.

Mas não é só contra a democracia que Batistti perpetra seus crimes. Numa carta enviada ao presidente Lula e tornada pública depois da sentença do STF, o italiano atenta contra a memória do escritor francês Albert Camus.

No texto, o criminoso condenado na Itália afirma que o terrorismo é responsável por “muitas conquistas sociais” hoje presentes naquele país. Acima da carta, Batistti usa como epígrafe uma citação de Camus — “Trinta anos mudam muitas coisas na vida dos homens, e às vezes fazem uma vida toda”.

A desonestidade não é inesperada, mas é de uma leviandade sem tamanho. Albert Camus foi um dos primeiros intelectuais a se insurgir contra a empulhação do bolchevismo e se colocou com coragem contra a tentativa de filósofos como Jean-Paul Sartre de estabelecer uma aura humanística em regimes políticos que eram nada mais que ditaduras sanguinárias.

Batistti parece ser um delinqüente trapalhão, um criminoso que viu nas ações armadas italianas primeiro uma possibilidade de faturar um pouco mais e depois, contando inclusive com a ajuda de companheiros brasileiros, um meio para escapar da punição por seus crimes.

O crime dele é comum e o de alguns de seus companheiros italianos e daqui são classificados como políticos. Mas a raiz é a mesma. Do espectro ideológico do bolchevismo é que saíram criminosos do seu tipo e criminosos apoiados em um discurso ideológico baseado no comunismo.

Camus não tem nada a ver com nenhum desses tipos de criminosos.
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POR José Pires

Um comentário:

Anônimo disse...

Camus realmente não merecia esta. Talvez uma citação de Sartre, que adorava a revolução cubana, viesse mais a propósito.