terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Progresso que não anda

Sete em cada dez pessoas sofrem com congestionamentos de trânsito no país. É o que diz uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). É claro que isso é um resultado do crescimento da frota de veículos no país, que agrava um problema sem solução. Não adianta esquentar a cabeça porque o único jeito é diminuir o uso do automóvel individual, mas infelizmente os governos fazem exatamente o contrário.

O transporte público é o meio mais usado, com o índice de 44,3%. Em segundo lugar vem o carro próprio, com 23,8%. A moto está na terceira posição e a bicicleta vem depois dos pedestres. Mais pessoas andam a pé do que de bicicleta: 12,3% e 7%.

De qualquer forma há uma desproporção entre os que usam o carro próprio e os demais meios. O que se vê é um privilégio na atenção ao carro. E um descaso com o transporte público. Até o empresariado escolhido para gerir este tipo de serviço é o mais desqualificado do país. Muitas vezes é gente até de práticas criminosas. Não à tôa, parte substancial da corrupção no país corre no meio do transporte público. No próprio PT tem o caso do ex-prefeito Celso Daniel, um amigo de Lula que acabou sendo morto num crime que envolve propina no transporte público.

O que existe é o estímulo ao transporte individual e um descaso com o transporte público ou com a alternativa mais divertida e com melhores resultados para a saúde, que é a bicicleta. No ano passado, o governo Lula injetou uma dinheirama nas montadoras de automóveis, uma política que acaba resultando em gastos imensos também nas outras decorrências negativas do uso do automóvel e que não estão nessa pesquisa do Ipea.

Além dos engarrafamentos, o Brasil também é recordista em acidentes de trânsito. E neste assunto os jornais costumam fixar-se no número de mortos e se esquecem da infelicidade dos feridos e de suas famílias. O trânsito gera também este outro gasto, de tratamentos que muitas vezes se prolongam por toda a vida do acidentado, além de indenizações e pensões.

A pesquisa do Ipea mostra também que muita gente não quer nem saber de transporte público. 32% dos entrevistados não passariam a utilizar transporte público sob nenhuma condição. Isso revela a imagem do transporte público no país. Mas é claro que pegar um ônibus apertado nem sempre é a única opção. Existe sempre a opção de andar a pé ou ir de bicicleta.

Mas para isso precisaríamos de políticas públicas sérias neste assunto e, para começar, um estímulo cotidiano dos nossos dirigentes políticos. Mas basta dar uma olhada para o barrigão do ex-presidente Lula e na forma física de sua sucessora para ver que este é mais um tema que não é do interesse deles. E aquela história da opção pela esteira para escapar da leitura também é outra mentira. Eles não fazem nem uma coisa nem outra.

O negócio deles é com as montadoras. O levantamento do Ipea mostra que de 2000 a 2010 a frota de veículos cresceu 90,9% a mais que a população. As motocicletas apresentaram um aumento de 242,2%.

O período coberto parece ter sido escolhido para confundir, o que não é novidade no Ipea depois que o presidente Lula deu uma guariba no instituto para um melhor atendimento do interesse do governo. Porque não mostrar os índices de 2003 a 2010? Foi um período em que a frota não só cresceu demais como tivemos até o próprio presidente Lula se gabando do feito com um orgulho besta.


Duas rodas ainda por baixo
Sobre o respeito aos ciclistas a pesquisa chegou a números bem baixos e dos quais, mesmo assim, bem duvidosos na minha opinião. No Sul do Brasil 60% dos sulistas vêem respeito a pedestres e ciclistas. Nas outras regiões o índice varia entre 36,3% e 40,7%.

Neste caso, acho que o restante do país esta sendo mais sincero que o Sul, onde o número de respeito me parece elevado demais. Eu, que sou bicicleteiro, não tenho tido o prazer de encontrar esse pessoal bacana que respeita tanto bicicleta. Ciclista sofre nas cidades brasileiras. Se até lugar para estacionar é difícil, quanto mais segurança para rodar pelas ruas.

O ciclista também está incluído numa categoria inferior na cabeça das pessoas. A bicicleta é vista como um meio para se exercitar ou como um veículo de passeio. Todo mundo acha bem elegante a pessoa chegando de bicicleta no escritório. Mas isso em filme ou propaganda. No Brasil, o uso da bicicleta no cotidiano é visto ainda como coisa de pobre ou de gente excêntrica.

A bicicleta é o melhor meio de transporte. Não tem nenhum dos efeitos colaterais do carro, como obesidade e várias doenças, não atravanca as cidades, não polui e nem faz barulho. E também está ao alcance do bolso de qualquer um.

As pessoas ainda vão se conscientizar disso. Só espero que no Brasil isso não siga o modelo de sempre: como cópia do que acontece no estrangeiro ou como remédio depois do esperado colapso energético.

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POR José Pires

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