segunda-feira, 21 de maio de 2012

Na onda do marketing

Em entrevista ontem ao jornal O Globo o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, diz o seguinte: “O BC está 200% preparado para reagir". Como jornalista brasileiro é danado para dar título que não confere com o conteúdo da matéria, fui até a entrevista e vi que ele falou mesmo esta bobagem. Quando a gente vê presidente do Banco Central falando com linguagem de vereador picareta, não há como não ficar preocupado. Um economista com esta cifra louca de “200%” também é outra coisa que não pode dar segurança a ninguém.

Li toda a entrevista do Tombini com um esforço danado, pois não é só os “200%” (vindo de um economista, isto merece um sic) do título que parece conversa de marqueteiro. O presidente do Banco Central fala como se fosse um vendedor de livros de auto ajuda. Em alguns momentos até parece o Paulo Coelho afirmando que é possível fazer chover no deserto com a força da mente.

Querem ver outra dele? Do Tombini, não do Coelho. Pois lá pelo meio do papo com o jornalista, quando já estamos até pensando em pedir um uísque já que a crise mundial está tão fácil de encarar , ele vem com essa: “É sempre uma boa filosofia esperar o melhor e se preparar para o pior”.

Uma conversa dessas seria espantosa até num boteco (ou saindo da boca do Coelho), mas o aforisma preocupa ainda mais porque Tombini está se referindo à crise que assola a Europa e está fazendo até economista alemão tremer quando fala no assunto.

Ah, Tombini, Tombini, se o Brasil tomba, pelo menos esse nome vai facilitar a piada. Isso não é filosofia. É só uma frase boboca e com o sentido inverso. Como é que alguém que espera o melhor pode se preparar para o pior? Tenho cá pra mim que uma frase dessas saiu de reunião de criação com marqueteiro.

Porém, não é exclusidade do presidente do Banco Central esta confusão conceitual sobre o enfrentamento dos evidentes problemas que vêm por aí mesmo que a Europa não afunde num abismo. Às vezes eu tenho a impressão de que o Brasil está sendo dirigido pelo João Santana, o marqueteiro do Lula e da Dilma. Como o PT resolveu administrar o país com o olho no ciclo de dois anos entre as eleições municipais e a eleição federal, botaram em primeiro plano o marketing do otimismo. Mas já faz tempo que eles não vêm sabendo fazer a separação entre a propaganda política e a administração do país.

Então, o marketing contaminou primeiro a linguagem dos políticos e depois passou para os quadros administrativos do governo. O contágio foi geral e hoje temos até técnicos embalados pelo marketing e fazendo análises que mais parecem jingle publicitário. E deu nisso: no meio de uma grave crise mundial temos um presidente do Banco Central que dá entrevista falando igual vereador picareta.
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POR José Pires

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