quarta-feira, 2 de maio de 2012

Sinais vermelhos na natureza

Acho que todos conhecem o lambari. É um peixe pequeno, muito simples, que fez parte da infância de muita gente do interior que hoje tem mais de quarenta anos. Na minha infância nadávamos entre eles em rios do entorno de Londrina, a cidade paranaense em que vivi até os 15 anos. Esses peixes podiam ser pegos até com peneira, depois de acuados no canto de um barranco.

O lambari é uma espécie em ameaça de extinção. O coitado está lá embaixo na cadeia alimentar. É comido por peixes maiores, usado como isca por pescadores e ainda fritado aos montes. Mas não é por isso que foi se acabando. Hoje em dia não é possível nadar em rio algum em volta da cidade, tomados que estão por poluição de todo tipo, inclusive a da carga brutal de agrotóxicos lançada sobre as lavouras, que escorre para as águas antes cheias de vida.

Outros peixes e bichos vão se extinguindo ou pelo menos ficando tão difíceis de encontrar que é mesmo como se não mais existissem. E isso vem acontecendo no país todo, uma terra em que até pouco tempo atrás a natureza nos envolvia até nas cidades.

Roberto Muylaert Tinoco tem um livro muito bonito de nome "Os duendes de seis patas e a cidade mutante", uma das obras mais especiais que já li não só pelo que vale para a ecologia, mas também por revelar a felicidade e a magia que a natureza traz para a gente no cotidiano. É um livro sobre sua infância na cidade de São Paulo, onde, na década de 50, colecionava e estudava besouros e borboletas.

Ele conta que em meados da década de 50 capturava no bairro de Pinheiros borboletas hoje raríssimas até nas matas. Ele diz que fazia o mesmo em Santo Amaro, no Brooklin, e em tantos outros bairros da cidade. É claro que essas borboletas e besouros já não estavam mais ali, quando fui morar no final da década de 70 em Pinheiros.

Não estão tão longe assim as recordações paulistanas que Muylaert Tinoco traz nesse livro tão belo e os fatos que eu lembro da minha infância no meio do mato, no norte do Paraná. No meu caso, não é nem a metade da vida de uma pessoa num país decente. E não é nada se este período for encaixado em um ciclo ecológico.

Em menos de quarenta anos perdemos muita vida e muita beleza. Na água que podia ser bebida com as mãos não se pode nem tocar o corpo. Hoje em dia nem é preciso ler os relatórios dos organismos internacionais para saber do tamanho da nossa desgraça. Basta dar um passeio a pé levando na cabeça a memória do que vivemos e observar com os nossos próprios olhos como as coisas estão agora. Os avisos de perigo estão por todo lado.
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POR José Pires

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