terça-feira, 12 de junho de 2012

O país do futuro sem estruturas

Afinal, qual é a língua que as autoridades brasileiras falam? Portuguesa é que não é. Em um evento oficial das Forças Armadas a presidente Dilma Rousseff mencionou a necessidade da ampliação da "capacidade dissuassória" do país.

Bem, como a mensagem foi lida na frente de representantes do Exército, da Aeronáutica e da Marinha, a presidente deve estar falando sobre a capacidade de combate, de ir pro pau, seja numa situação de ataque ou em defesa dos interesses do país e também em caso de conflito interno. É essa capacidade inclusive que costuma evitar que haja confronto militar no plano internacional. Do jeito que o mundo está é o poder militar que preserva a paz. E nação sem esse poder terá sempre mais dificuldade para exigir diálogo.

E o Brasil precisa sim, falando na língua da Dilma, de "capacidade dissuassória". E nem digo "ampliar", pois para isso é preciso primeiro ter alguma capacidade. E claro que não estou falando apenas em comprar trabuco. Falta domínio estratégico e estrutura que sirva de apoio em tempos de crises. E evidentemente tem que ser um pouco mais do que capacidade de ocupar favela para desentocar bandido.

Além da questão militar, falta também uma administração pública baseada num projeto de Nação e não nas trocas oportunas entre Executivo e Congresso, nos privilégios e na distribuição do dinheiro público entre as quadrilhas que encenam de forma fraudulenta uma suposta governabilidade. É preciso compatibilizar progresso e meio ambiente, tudo composto com decência na vida pública, pois sem isso o chamado “país do futuro” não vai chegar bem lá na frente.

No futuro do planeta países fracos terão um espaço bastante diminuído nas decisões internacionais. E podem até ser vítimas fatais na partilha dos recursos naturais de todo o mundo, que vão escasseando dia a dia. Recursos, por sinal, que em relação a muitos outros lugares o Brasil leva bastante vantagem.

O problema é que o tempo para isso vai se esgotando. Será muito mais difícil se estruturar em meio a uma crise. Essas coisas devem ser feitas antes. E o Brasil nem deu início ao trabalho neste campo. Se tivermos mais dois governos pela frente distribuindo demagogia para pobre em vez de administrar o país de forma ampla, estratégica e consequente, a posição futura do Brasil será a de uma colônia do século 21.
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POR José Pires


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Imagem: Arzach, personagem do desenhista francês Moebius (1939-2012) em história em quadrinhos que se passa num futuro caótico e violento. E o Brasil não está se preparando para chegar lá.


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