quarta-feira, 20 de junho de 2012

Orgulho ferido

É tamanha a necessidade do brasileiro acreditar em algo honesto na política que está havendo até confusão entre ética e melindre. Com a desistência da deputada Luiza Erundina em ser a vice na chapa de Fernando Haddad, estão aparecendo muitas manifestações que dão ao gesto um significado muito além do seu valor real. Triste do país que precisa de heróis, mas muito mais desgraçado ainda é o país que precisa de uma Erundina para isso.

Erundina é deputada federal desde 2002 e passou os dois mandatos de Lula e esta primeira metade do governo Dilma ignorando na prática os sucessivos escândalos deste longo período do PT no poder, mas vamos ficar só na questão da sua desistência de ser vice.

A deputada resolveu renunciar só depois da divulgação da famosa foto do Lula com Paulo Maluf, quando malufistas e petistas afinal se misturaram nos jardins da mansão de Maluf. Que Erundina ou qualquer outro resolva não participar de tamanha farsa, muito bem. No entanto ela já havia aceitado ser vice de Haddad numa situação política que não era nem um pouco ética.

De origem, a candidatura de Haddad tem todos os traços da política de coronel que é comandada por Lula no PT. O candidato foi imposto de cima, sem nenhum debate no partido e muito menos a abertura para a participação da militância. Muito ao contrário, os chefes do PT até aboliram as tradicionais prévias que o partido sempre fez. Ocorreu também o aplastramento de Marta Suplicy, cuja candidatura era muito mais lógica na história do partido, mas não era do interesse de Lula.

E até aí estava tudo bem para Erundina ser vice. A sua própria entrada na chapa foi resultado também de política de coronel, este do nordeste: o governador Eduardo Campos, atual proprietário do PSB. A participação do PSB na campanha paulistana do PT é parte de um conchavo entre os chefões dos dois partidos, numa combinação para acabar com a candidatura à reeleição do atual prefeito de Recife, que é do PT, mas não se dá bem com Lula e nem com o governador pernambucano.

Enquanto o processo era esse, Erundina estava muito bem no papel de vice. Ela já falava oficialmente como vice e até dava entrevistas amenizando a aliança com o PP, que sempre foi do seu conhecimento. Acontece que Lula deixou de ir ao lançamento dela como vice e depois posou para as fotos que todo mundo já viu. Só depois disso é que Erundina deu o fora. É um engano achar que ela fez isso por ética. Foi por melindre.
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POR José Pires


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Imagem: Lula e Paulo Maluf se encontram como velhos chapas nos jardins da mansão de Maluf. Foi só aí que Erundina saltou fora.


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