quinta-feira, 21 de março de 2019

Políticos com os nervos à flor da pele

Era muito estranha a irritação do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que nesta quarta-feira havia avançado sobre o ministro Sergio Moro com uma fúria que não combinava com seu perfil político, até porque se ele fosse sempre assim não estaria na presidência da Câmara. Maia disse que o projeto anticrime era uma cópia do mesmo tema apresentada no passado pelo ministro Alexandre Moraes, do STF, o que além de não ser verdadeiro não foi apontado por ele quando Moro apresentou seu projeto há alguns dias.

Por sinal, Moro já havia dito que incluiu ideias de Moraes no projeto anticrime. Isso é comum em projeto de lei, como Maia sabe muito bem. Um projeto de lei não está na categoria de obras de literatura. Não é poesia ou romance, sobre os quais se exige originalidade.

Ontem a irritação de Maia foi tanta que ele atropelou de forma lamentável normas de cortesia pessoal e também de respeito entre os Poderes. O presidente da Câmara havia sido criticado por ter adiado a tramitação do projeto de Moro. Na grosseira réplica, ele chamou o ministro da Justiça de “funcionário” de Bolsonaro, talvez sem perceber que com isso ofendia o próprio presidente da República ou então sabendo disso e não se importando com a desqualificação feita ao governo.

Uma fala de Maia: “Eu sou presidente da Câmara, ele [Moro] é ministro funcionário do presidente Bolsonaro. O presidente Bolsonaro é quem tem que dialogar comigo. Ele está confundindo as bolas, ele não é presidente da República, ele não foi eleito para isso. Está ficando uma situação ruim para ele”.

O ministro Sergio Moro respondeu com uma nota sóbria, sem tocar nas graves ofensas do presidente da Câmara. E hoje acordamos com a notícia da prisão do ex-presidente Michel Temer, por ordem de prisão expedida pelo juiz Marcelo Bretas. Outro político preso foi o braço direito de Temer no governo, o ex-ministro Moreira Franco. Ele é sogro de Rodrigo Maia. O presidente da Câmara tinha fortes razões para o mau humor de ontem.
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POR José Pires

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