sexta-feira, 22 de março de 2019

Temer na cadeia e os tradicionais pretextos para evitar a prisão de maiorais

É curioso como sempre aparece a alegação do risco de um grande transtorno político ou social quando a polícia prende um salafrário com grande poder. Agora, com a Lava jato mandando pra cadeia o ex-presidente Michel Temer, estão falando em dificuldades na arrumação necessária do país, que tem na reforma da Previdência um passo decisivo. Porém, se não tivesse essa reforma arranjariam outros assuntos. Sempre foi assim para defender um maioral pego pela polícia.

Um exemplo marcante dessa antiga tentativa de ludibriar a lei vem do ministro Marco Aurélio de Mello, em uma fala significativa, quando há pouco mais de um ano Lula estava para sofrer a condenação pela qual seria preso. O ministro afirmou então que não acreditava que o chefão do PT seria preso antes do recurso da defesa percorrer todo aquele caminho interminável, até chegar aos tribunais superiores. “A prisão do presidente Lula preocuparia a todos em termos de paz social”, disse Marco Aurélio.

O ministro aproveitava uma estratégia antiga com a qual durante muito tempo o PT se prevaleceu politicamente, com a criação de um clima de intimidação apoiado num suposto apoio das massas ao PT, sempre pronto para ser acionado em caso de ameaça ou mesmo brotar de um modo instantâneo, em revolta contra os inimigos do partido do Lula. Enquanto não houve quem peitasse esse mito, os petistas pintaram e bordaram, ganhando eleições com caixa dois, montando cenários para se beneficiarem e atacando de todas as formas quem ousasse contrariá-los. Esse mito de propaganda com a intimidação de uma possível revolta popular sempre foi uma excelente defesa para não serem forçados ao respeito da lei.

A Operação Lava Jato não aceitou baixar a cabeça à intimidação. Mostrou que o PT apoiava-se numa bravata para afrontar o país, dominar as instituições e manter na impunidade sua cúpula de ladrões. Na verdade, não era “a todos” que afetava a prisão do Lula. A preocupação vinha de um círculo restrito, composto por uma elite política de uma ganância sem tamanho. O que não queriam é ver as leis sendo aplicadas com o devido rigor. Ligado até por laços de família a esta elite (foi nomeado pelo primo Collor), Marco Aurélio é uma das figuras tradicionais que sempre mantiveram o Judiciário a serviço de interesses particulares, de gente endinheirada e de poder pessoal arrancado de forma abusiva do Estado, se empenhando inclusive em criar conceitos para que este domínio.

Não era por respeito à origem popular do poder conquistado por Lula que Marco Aurélio procurava protegê-lo. Tampouco era em respeito a valores sociais progressistas, no contexto da imagem do líder dedicado aos mais pobres. A defesa de Lula por Marco Aurélio é uma dessas ironias da política brasileira, no cinismo da alegação de um oligarca que apela para o risco da revolta das massas insatisfeitas com a prisão de seu líder. Mas na verdade, por meio dessa enganação o objetivo é manter a impunidade de toda uma casta de salafrários que saqueia os cofres públicos há várias décadas.

O próprio Lula teve uma interferência pessoal nessa tradicional imposição de um seleto clube da impunidade, quando disse que José Sarney “não podia ser tratado como se fosse uma pessoa comum”. Atualmente um criminoso condenado, Lula falou como presidente da República em junho de 2009. Sarney era acusado de graves irregularidades como presidente do Senado. São inúmeras as histórias como esta ou a do ministro Marco Aurélio. Esse pessoal está sempre procurando estabelecer conceitos que justifiquem a impunidade. É o que ocorre agora nesta prisão de Temer.

Pela lógica torta de suas conversas é evidente que jamais haveria a oportunidade da prisão de um maioral, já que sempre é possível a alegação de uma provável complicação sobre algo que estiver em andamento. E exatamente desse jeito eles procuram estabelecer a impunidade, facilitando a atividade de saquear os cofres públicos.

Faça uma projeção do tanto de coisas que esse governo precisa fazer, além das tarefas do Judiciário e do Legislativo, sem falar na trabalheira geral do resto do país. Sem dúvida, levaria vários anos para poder encaixar de forma tranquila em uma agenda tão cheia a prisão do Temer ou de qualquer outro salafrário. Por isso não faz sentido esperar uma situação mais normalizada para prender corrupto. Ao contrário: se eles não forem presos logo, esses bons tempos jamais virão.
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POR José Pires

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