segunda-feira, 13 de maio de 2019

Weintraub, Paulo Guedes e suas atrapalhadas lições

Nunca houve no país um governo desastroso como o de Jair Bolsonaro, que conseguiu montar para si próprio uma equação política de tal forma problemática, que mesmo um opositor muito encardido teria dificuldade de bolar. A estratégia é destruidora. O governo não aproveitou a trégua protocolar de início de mandato, quando a população mantém uma absoluta tolerância e a própria oposição é obrigada a manter-se calada até que passe esse período de espera.

Era o momento de tomar ciência dos problemas, articular-se politicamente, estabelecer o comando sobre a máquina pública, criar pautas positivas e se possível travar a oposição. Pois o presidente Bolsonaro não fez nada disso. Ao contrário, ele levantou assuntos excelentes para seus inimigos. Que governo doido atua estimulando o confronto, como se tivesse uma eleição para disputar em poucos meses? É o governo Bolsonaro. Para a esquerda, isso tem sido muito bom. A situação ficou tão favorável que até o Twitter do presidiário Lula anda tirando um sarrinho.

O assunto mais quente pode fazer o país fervilhar nos próximos dias. Traz uma pauta criada exclusivamente por Bolsonaro, na área do ensino superior público, exatamente onde a esquerda é bem articulada e sabe atuar politicamente. A novidade é que a notória falta de tato deste governo pode ter criado uma unidade em todo o ensino superior, onde a esquerda sempre teve seu poder político restrito ao comando de organismos de representação, que ganha por meio de eleições de baixíssima participação de professores, servidores e estudantes. Ao bater de frente com as universidades, o governo junta ao mesmo bloco de resistência até quem nada tem a ver com os objetivos da esquerda.

O impagável ministro Abraham Weintraub e seu chefe deram a uma oposição até então desmobilizada esta pauta política facílima de tocar pra frente. Manifestações já aconteceram em várias cidades na semana que passou. Foi marcada uma greve geral para o dia 15 deste mês. Tudo indica que a “balbúrdia” será nacional. Nada mais fácil, com um governo que traz até chocolates para gerar assunto contra seu próprio interesse.

Na política, as chamadas “pautas-bombas” costumam aparecer como forma de pressionar o Executivo. São geralmente criadas pela oposição. A novidade é um governo que espalha seus próprios explosivos. Outro assunto que deve render bastante para a oposição é o da reforma da Previdência, com desdobramentos que com certeza chegarão às ruas. A apresentação do projeto do governo é um desastre, a começar pela incrivelmente inábil performance do ministro Paulo Guedes. Bem que uma conhecida aluna sua na universidade, a liberal Elena Landau, disse que ele foi um mau professor. E ainda era de matemática.

Guedes é tão ruim na exposição de suas ideias, que no confronto com ele até a deputada comunista Jandira Feghali passa a exalar simpatia. Políticos esquerdistas notoriamente agressivos conseguem até mesmo apelar ao respeito institucional e passar por vítimas. O “Posto Ipiranga” do Bolsonaro virou a preferência da esquerda. Adoram um debate com ele. E é claro que o clima tende a esquentar, conforme o processo se desenvolver no Congresso Nacional. Pode ser um passeio para a oposição. A bancada aliada do governo do Bolsonaro não tem capacidade de enfrentar parlamentares experientes em criar armadilhas e que agora se beneficiam com o confronto político.

E depois a pauta da Previdência deverá ir para as ruas, onde independente do modo como será aprovada servirá como um tema excelente para atiçar a população contra o governo. A reforma trouxe várias questões impopulares. Mesmo se forem limadas, estarão marcadas como intenção deste governo em tirar direitos dos mais pobres. Porém, a complicação mais difícil para Bolsonaro é que sua aprovação se dará com o país ainda em marcha muito lenta na economia.

A melhor das aposentadorias no futuro pouco significa em um país que no presente nem emprego tem. Mas acontece que o adorado ministro de Bolsonaro não estabeleceu uma relação prática entre a reforma da Previdência e a organização econômica do país, deixando o governo pendurado num projeto com efeito de longo prazo, enquanto o povo sofre o diabo no dia a dia, com os sérios problemas econômicos que há muito tempo atormentam a vida do país.
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POR José Pires

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