domingo, 23 de junho de 2019

Folha de S.Paulo entra no jogo do Intercept, dando chancela aos ataques a Sérgio Moro e contra a Lava Jato

Com a publicação pela Folha de S. Paulo neste domingo de mais uma parte dos vazamentos em poder do site The Intercept, o jornalista Glenn Greenwald tenta dar uma requentada na denúncia que tem em mãos. O problema é que o novo material é tão fraco que diminuiu ainda mais a tentativa de escândalo que começou no site de sua propriedade. A chancela de um grande veículo nacional era necessária para dar ao vazamento a credibilidade que até agora estava difícil dele garantir. Greenwald é um ativista político. Seu site é marcadamente ligado ao PT e seus puxadinhos, especialmente o Psol, partido pelo qual seu marido é deputado federal. E para ter efeito, esse tipo de denúncia precisa aparentar independência.

Antes da publicação em seu site, o material foi oferecido por ele à Rede Globo. Greenwald queria uma reportagem no Fantástico, mas não houve acordo com a emissora por causa de sua recusa em revelar o conteúdo e a forma como os vazamentos chegaram às suas mãos. A partir daí, nas entrevistas que deu quando começou a polêmica, ele passou a insinuar que a Globo estaria protegendo Moro. Foi desmentido com firmeza. Segundo a emissora, o dono do The Intercept queria um cheque em branco. “Não damos cheque em branco a ninguém, especialmente a Greenwald”, disse Ali Kamel, diretor de jornalismo da Globo.

Essa história tem a aparência de crime cibernético da maior gravidade e existe até a suspeita de envolvimento de estrangeiros no hackeamento das conversas. Já apareceu até a comprovação de uma fraude criminosa. Na última quarta-feira o Estadão publicou reportagem em que diz que a Polícia Federal descobriu que um hacker tentou se passar pelo ministro Sérgio Moro e mandou mensagens para procuradores em nome do ministro.

Neste domingo, o ex-procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, que foi coordenador da Lava Jato, disse ao site O Antagonista que a Folha de S. Paulo errou ao publicar o “material apócrifo e de origem criminosa”. Sua consideração sobre este fato é lógica. “O primeiro de seus erros [da Folha] foi dizer que A Interceptadora recebeu de fonte anônima, enquanto está claro que este site conhece e protege a Fonte. Assim, nenhum jornal sério iria trabalhar no material sem que a fonte fosse compartilhada”, ele disse.

De fato, existe uma complicação nesta dubiedade do The Intercept e de seu dono. Greenwald se esforça para dar ao caso um status de exercício da liberdade de imprensa e do respeito ao jornalismo investigativo. Porém, seu comportamento de ativista anula a credibilidade jornalística. Não é de hoje que ele atua em ataque à Lava Jato e na defesa de Lula e do projeto petista. Durante o processo de impeachment foi intensa sua atividade no exterior, para criar a imagem internacional de um golpe antidemocrático à cassação de Dilma Rousseff. Com este vazamento, ele segue na mesma ladainha.

Ainda sobre esta confusão deliberada que procura-se fazer entre o direito do sigilo da fonte e cumplicidade com vazamento criminoso, Fernando Gabeira já havia trazido uma interessante questão, em um artigo publicado há cerca de duas semanas. Ele escreveu o seguinte: “The Intercept diz que a fonte foi protegida por algumas semanas. É um sinal de proximidade. Há uma diferença entre proteger a fonte e proteger apenas seu anonimato”.

Mas independente dos meios utilizados neste caso, não há dúvida alguma sobre o objetivo de desacreditar a Lava Jato e favorecer Lula. Não há nenhuma preocupação com os perigos decorrentes do sucesso deste plano. Crime organizado, narcotráfico, milícias, a bandidagem em geral estará agradecida pelo clima de impunidade. Corruptos também aplaudirão balançando seus dólares e jóias. A esquerda tampouco tem o menor cuidado com o risco de conflitos sociais, como aliás nunca teve. Mesmo com o vasto histórico de quebradas de cara, eles mantêm a crença de que serão favorecidos com o caos.

O material publicado pela Folha é mais do mesmo, na estratégia de Greenwald de criar uma desestabilização dos adversários mais pela ameaça de denúncias que supostamente guarda na gaveta do que pelo sai publicado. Não há nada que incrimine Moro ou os procuradores nesta leva de vazamentos, tão mixos quanto os anteriores. Na tentativa de criar uma desarmonia, incitando movimentos de rua contra Moro, teve até um artifício bobinho, de revelar uma mensagem com críticas de Moro a um protesto feito pelo MBL, em 2016, em Porto Alegre.

A articulação política em torno deste assunto pretendia estimular um avanço da esquerda e beneficiar Lula. Mas até aqui, o resultado é outro. Tentaram acossar Moro e acabaram por demonstrar uma sintonia muito forte entre sua imagem e a da Lava Jato. E a esquerda fica com a fama de defender a impunidade. Mas pode vir mais coisa por aí. Há alguns dias, mesmo com a precariedade desse governo os bolsonaristas conseguiram juntar uma quantidade considerável de gente nas ruas. Pois graças a esses vazamentos, este próximo 30 de junho ganha uma pauta de aceitação geral: o combate à corrupção e a defesa da Lava Jato. É provável que façam uma manifestação de grande sucesso, associando o bolsonarismo à operação de combate à corrupção de maior popularidade na história do país.
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POR José Pires


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Imagem- Foto de Marcelo Camargo, Agência Brasil

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