domingo, 16 de junho de 2019

Joaquim Levy e Bolsonaro: fim de caso

É provável que o presidente do BNDES, Joaquim Levy, já esteja oficialmente fora do cargo nesta próxima segunda-feira. Pelo menos se ele tiver vergonha na cara, pois do jeito que Jair Bolsonaro o tratou nesse sábado, terá de dobrar de forma muito humilhante a espinha para se manter no cargo.

Levy nomeou Marcos Barbosa Pinto para a diretoria de Mercado de Capitais do BNDES. Acontece que ele já trabalhou como assessor do banco durante o governo do PT, o que deixou Bolsonaro muito zangado. A consequência disso em danos para a atividade do banco estatal, só Bolsonaro sabe. Como ele tem informantes preciosos, pode ser que tenha sido avisado sobre o risco de alguma tática gramscista que desestabilize o capitalismo brasileiro.

Vejam o que Bolsonaro disse: “Eu já estou por aqui com o Levy. Falei pra ele demitir esse cara [Marcos Barbosa Pinto] na segunda-feira ou eu demito você, sem passar pelo Paulo Guedes”.

Ora, o sujeito que Levy nomeou é um profissional do mercado. Foi sócio da Gávea Investimentos, fundada por Armínio Fraga. Se esses dois forem comunistas, já faz tempo que estão enganando muito bem. Não é possível que Bolsonaro não saiba ainda que não é por ideologia que esse pessoal do mercado financeiro vive pulando de um governo para o outro. O próprio Levy foi ministro da Dilma. Será que ele pensa que sua presença agora como presidente do BNDES em seu governo é por amor à causa?

E como se vê, sobrou até para o Guedes, que também vai ficando com cada vez menos respeitabilidade para tocar seu trabalho. A verdade é que o tal “mercado”, de que essa tigrada fala com uma idolatria até meio pecaminosa, já deve estar ressabiado e se perguntando quanto mais de sapos suportará a goela do Guedes.

Mas Bolsonaro disse mais uma coisinha que servirá para a meditação de Levy neste fim de semana. A fala do presidente, aliás, tem mesmo a ver com sua cabeça: “Essa pessoa, o Levy, já vem há algum tempo não sendo aquilo que foi combinado e aquilo que ele conhece a meu respeito. Ele está com a cabeça a prêmio já há algum tempo”.

Estressante o clima, não é mesmo? Já rolam os papos de que dentro da própria equipe econômica já acham insustentável a situação de Levy. E segundo o site O Antagonista, o próprio Armínio Fraga, que foi sócio do diretor do BNDES cuja nomeação deixou Bolsonaro enfurecido, disse que Levy deveria pedir demissão antes de segunda-feira.

De fato, a sugestão é sensata. Para usar uma imagem que Bolsonaro gosta muito, o namoro gorou. Ou era um casamento? Não importa, o que vale é o que fica como aprendizado, com uma lição muito importante que todo liberal deveria levar em conta.

Levy teve oportunidade de fazer a constatação pelas duas vias, igualmente humilhantes para ele. Esse negócio de liberalismo parece que não funciona muito bem com governos populistas. À direita ou à esquerda, dá sempre em encrenca.
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POR José Pires

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