segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Bolsonaro e sua indomável personalidade

Como se sabe, Jair Bolsonaro andava seguindo um plano de aparentar equilíbrio, evitando as confrontações, na maioria das vezes criadas por ele mesmo e sem resultado positivo que compense o desgaste. A estratégia funcionava relativamente bem, nada que o fizesse ser considerado um estadista ou convencesse parte considerável de seu eleitorado a voltar atrás no arrependimento de ter votado nele para presidente, porém já era um considerável avanço para um sujeito que se comporta como alguém que acorda pensando como tornar o dia dos brasileiros mais difícil do que já é normalmente.

 

O plano parecia estar funcionando de forma razoável, até que veio a agressão ao jornalista do jornal O Globo, na sua estúpida ameaça dizendo que tinha “vontade de encher sua boca de porrada”. Então a pergunta “Presidente Jair Bolsonaro, por que sua esposa recebeu R$ 89 mil de Fabrício Queiroz” virou um fenômeno nas redes sociais, sendo replicada aos milhões de várias formas

 

Bem, a estratégia de paz e amor era exatamente para evitar repercussões desse tipo. Mas o desgaste não parou por aí. Nesta segunda-feira, novamente em desrespeitoso ataque a jornalistas, o presidente ofendeu também a memória dos brasileiros que morreram de Covid-19 e os seus familiares e amigos, dizendo que não sobrevive à doença quem é “bundão”.

 

Claro que assessores já devem estar procurando convencê-lo a retomar a estratégia de procurar controlar o ofensivo destemperamento, mas não vejo possibilidade dessa mudança não topar novamente mais à frente com outra situação em que ele não tenha como evitar a explosão da sua verdadeira personalidade.

 

Bolsonaro me lembra bastante o protagonista do livro “O médico e o monstro”, romance excelente escrito pelo grande Robert Louis Stevenson, que além de ser uma leitura estilisticamente muito prazerosa serve também como um interessante estudo psicológico. Em resumo, é uma história sobre a dupla personalidade do Doutor Jekyll, médico de espírito nobre e sofisticado culturalmente, que costuma sofrer uma horrível transformação, tornando-se Mister Hyde, capaz de cometer crimes monstruosos.

 

Bolsonaro me lembra bastante este romance, que obriga o leitor a uma descida aos profundos meandros da natureza humana, na sua desagradável e temerosa ambiguidade. O romance sobre Doutor Jekyll e Mister Hyde serve para explicar este nosso presidente, mas com uma diferença moral muito importante: na personalidade de Bolsonaro só existe Mister Hyde.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌


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