terça-feira, 25 de agosto de 2020

O bolsonarismo e os caminhos eleitorais do assistencialismo misturado com religião


Como se costuma dizer, baixou um silêncio ensurdecedor entre os bolsonaristas sobre a deputada Flordelis, da base política de Jair Bolsonaro e do partido que o elegeu presidente, acusada de ser a mandante da morte do marido, pastor Anderson do Carmo, assassinado com mais de 30 tiros na casa onde os dois moravam.

 

O assunto parece não ser do interesse das hostes bolsonaristas, sempre insuportáveis quando acontece qualquer coisa entre os adversários. Apesar de que para bolsonarista, se não tem um fato, inventa-se.

 

Contra os adversários vale tudo. Imaginem o furdunço que os bolsonaristas estariam fazendo com um caso como este, com um enredo que mistura religião com política, poder financeiro, relações próximas com o governo federal e um assassinato violento que envolve toda uma família, se o acontecimento envolvesse uma deputada de esquerda.

 

A deputada Flordelis sempre teve relações estreitas com o governo Bolsonaro, com pautas eleitorais em parceria com a ministra Damares Alves, em assuntos que envolvem a “defesa das mulheres e da adoção de crianças”. As aspas podem servir como alerta às feministas. A direita que mistura política com religião já descobriu a mina de ouro eleitoral que podem ser as pautas abertas pelo feminismo.

 

Como tem feminista pensando até em cota para eleger especificamente mulheres, cabe o aviso. Olha o que vocês podem aprontar: em pouco tempo poderemos ter no Congresso uma maioria de mulheres de direita eleitas por esta cota.

 

Mas voltando ao companheirismo entre Damares e Flordelis, a dobradinha das duas se dava em ritmo produtivo, com uma confiança plena da parte da ministra, como pode-se ver na mensagem da ministra pelo Twitter no dia da morte de Anderson do Carmo — veja na imagem. Por sinal, no dia em que foi feita a foto das duas (em fevereiro de 2019), na reunião estava presente o marido de Flordelis. Quatro meses depois ele foi assassinado.

 

É no ministério de Damares que se desenvolvem planos com metas eleitorais imediatas que pegam a população mais pobre nas suas necessidades psicológicas muito fortes, com a sedução política usando a extrema carência material e a absoluta desproteção da parte do Estado nos direitos mais essenciais.

 

Tem-se dado pouca atenção ao que se faz neste ministério e quando a imprensa toca neste assunto até se faz piada, mesmo porque Damares é caricatural. Porém, por ali podem estar sendo abertos canais políticos e culturais muito fortes entre os brasileiros mais pobres, basta ver que Flordelis era frequentadora assídua do gabinete de Damares.

 

A deputada Flordelis não era um peixe pequeno na bancada bolsonarista. Ela foi a quinta mais votada no Rio de Janeiro com 196.959 votos. Teve na sua frente apenas Helio Negão, que é amigo de Bolsonaro e fez campanha colado ao presidente, além de Marcelo Freixo (PSOL), Alessandro Molon (PSB) e Carlos Jordy (PSL). Flordelis não ficou longe em votação. Faltou apenas cerca de sete mil votos para ela tomar o quarto lugar de Jordy e o mais votado teve 345.234 votos.

 

Ou seja: ela estava em projeção política em seu estado, onde certamente ocuparia um papel de destaque nas eleições para governador, talvez até como candidata. Sem a encrenca do assassinato do marido, Flordelis tem características que a destacam no modo que anda a política hoje em dia, até mesmo podendo aproveitar-se do espaço aberto pelas feministas, como avisei acima às colegas. Cabe apontar também que é exatamente neste estado a base eleitoral de Bolsonaro e sua família.

 

A morte ocorrida no Rio de Janeiro, que segundo a polícia foi encomendada pela deputada bolsonarista, não é apenas um fato das páginas policiais. Envolve a construção de poder político em um âmbito cultural de um reacionarismo atroz, com a manipulação por meio da religião e do assistencialismo em comunidades carentes até do que é básico para sobreviver, que é exatamente onde politicamente o bolsonarismo tem o ambiente preferencial para o seu fortalecimento.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌


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