O deputado Ricardo Barros, líder do governo na Câmara, foi questionado sobre o incidente desta quarta-feira, quando ele e o ministro Luiz Eduardo Ramos afastaram bruscamente o ministro da Economia de repórteres, obrigando Paulo Guedes a abandonar uma entrevista coletiva. Barros foi evasivo sobre o assunto, de acordo com seu comportamento como político que fez carreira nos bastidores, onde tudo se realiza longe dos olhos do público.
Barros não é qualificado para a relação com a opinião pública, posto em que se impôs neste governo, até porque o presidente Jair Bolsonaro não dispunha de muita escolha de lideres políticos que possam criar uma imagem de credibilidade ao seu governo. E este político do PP nunca soube cumprir um papel em que a comunicação tenha um peso definidor.
Sua personalidade autoritária transparece no que fala e na sua arrogância pessoal ele é capaz de criar complicações sérias na relação de um governo com a sociedade civil, como ocorreu várias vezes durante sua passagem pelo Ministério da Saúde. O governo Temer era obrigado a manter uma equipe de bombeiros apagando fogueiras criadas por suas falas, em que agredia o bom senso e arrumava encrencas com categorias profissionais, instituições, muita gente ofendida com as baboseiras lançadas com prepotência sobre a opinião pública.
Para não responder diretamente sobre a constrangedora pressão em cima de Paulo Guedes, o deputado o classificou como “o ministro mais forte do governo”. Como eu falei, aí temos em ação o sujeito com uma séria dificuldade de se expressar. O elogio a Guedes acaba sendo pejorativo ao conjunto da equipe de ministros de Bolsonaro. Um ministro “mais forte” obrigatoriamente está cercado de outros mais fracos.
Mas Barros foi adiante, procurando elevar a estatura de Guedes com outra disparatada comparação com colegas de governo. Ele disse que Guedes “é o [ministro] que tem mais capacidade de induzir as decisões do governo, até porque todos os ministérios querem gastar, e ele tem que manter o rigor fiscal, o teto de gastos”. Resumindo, Guedes tem a qualidade de servir como freio a uma cambada de gastadores. Muito bacana a retórica do Barros, não é mesmo? Mas eu já tinha avisado.
O líder que Bolsonaro arrumou é desse jeito mesmo. Não cabe discutir o que um político como ele pode resolver nos bastidores, ainda mais para um presidente que parece ter como meta fazer o Brasil recuar do ponto de vista ético, mas o cacique do PP não é apropriado para compor um discurso que dê uma cara aceitável a um governo.
Ele é uma dessas figuras políticas que pode servir como força política para estabelecer o que esse pessoal chama de “governabilidade”, sem que eu esteja fazendo juízo de valor quanto aos preceitos éticos para isso. Duvido bastante que ele seja capaz de abrir alianças além de seu partido, que por ser voraz demais acaba competindo de forma invasiva dentro da parcela clientelista da Câmara.
Barros é um dos chefões nacionais do PP, partido cujo valor moral pode ser sintetizado simbolicamente em figuras como Paulo Maluf e José Janene. Este último, por sinal falecido às vésperas de ser julgado e certamente condenado pelo STF no inquérito do mensalão, quando era vivo dividia com Barros o poder no PP do Paraná.
Como eles eram adversários dentro do partido e Janene sempre teve mais poder no plano nacional, a morte do colega favoreceu Barros, abrindo a oportunidade dele ocupar o poder total no partido no Paraná. E além de ficar mais forte no estado, foi beneficiado por um considerável aumento de poder de barganha do PP nacional, antes exercido por Janene.
Na política, Barros está sempre do lado que o favorece e não tem preocupação alguma com lealdade, palavra que certamente não consta de seu parco vocabulário. Basta pesquisar na internet para conferir que ele é do tipo que só não participa de um governo quando não é aceito. E também é capaz de se desligar com rapidez das parcerias quando a ruptura lhe convém.
No Paraná, ele era tão próximo de Beto Richa que sua mulher Cida Borghetti foi vice do governador tucano por dois mandatos. Pois quando Richa largou o governo para ser candidato ao Senado em 2018, em aliança com Barros e a mulher candidata ao governo, o tucano foi abandonado. Vendo se esgotar o poder político do antigo aliado, toda a família Barros eliminou Richa até de santinhos eleitorais.
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POR José Pires
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