segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Governo Bolsonaro faz do Brasil um palanque de Donald Trump

Não é que seja necessário mais provas de que Jair Bolsonaro é um desatinado, mas nesta semana que passou ele demonstrou que seu governo depende até do bom senso de Nicolás Maduro, esta desastrosa figura que domina hoje a Venezuela. O secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, esteve em Roraima promovendo a mais reles provocação política, que serve obviamente como material de campanha de Donald Trump, na sua tentativa de reeleição.

 

O uso do solo brasileiro para a campanha de Trump certamente teve mais que o consentimento de Jair Bolsonaro. A adesão entusiasmada foi de um fã declarado do presidente americano, mas a aceitação do ridículo papel de cabo eleitoral trumpista se deve também às suas necessidades, na dependência desesperada da derrota do democrata Joe Biden.

 

Com Trump fora da Casa Branca não haveria mais sustentação alguma para a absurda política externa desenvolvida pelo chanceler Ernesto Araújo, que mostra sua incapacidade até por ter colocado o país na dependência de uma única carta no jogo da política internacional.

 

Nesta condição, mesmo se quisesse, o governo Bolsonaro não teria como evitar que um secretário de Estado dos Estados Unidos usasse o solo brasileiro como palanque internacional da campanha trumpista. E como eu já disse, do ponto de vista pessoal jamais passaria pela cabeça de Bolsonaro discordar dessas táticas de campanha de Trump. Ao contrário, com seu caráter subserviente ele deve até sentir aquele orgulho asqueroso de puxa-saco quando é chamado a colaborar com o chefe.

 

Bolsonaro também está pouco ligando com o que pode acontecer de ruim com o Brasil. Sua política continua a mesma de quando foi um deputado do baixo clero, em quase três décadas como um dos mais desprezíveis entre essa baixa categoria de políticos de Brasília.

 

Seu foco  foi sempre o de ganhar dinheiro com a política, de preferência do modo mais fácil. Fez qualquer coisa para engordar o caixa familiar, criando linhas de, digamos, financiamento da fortuna familiar, com dinheiro tomado de funcionários nomeados em gabinetes dos filhos, além de outras mutretas que dificilmente deixarão de aparecer em investigações.

 

Nesta fuga das responsabilidades de sua carreira política ele vai depender dos arranjos com a parte mais suja da política brasileira para brecar a Justiça, incluindo acertos com a esquerda liderada pelo ex-presidente Lula.

 

Mike Pompeo completou um roteiro por países que fazem fronteira com a Venezuela, incluindo nesta viagem de provocações também o Suriname, Guiana e Colômbia. Claro que por enquanto o resultado prático dessa diplomacia eleitoreira em relação à Venezuela é o fortalecimento de Maduro e o estreitamento de laços de seu governo com as Forças Armadas daquele país. Perde a oposição venezuelana e fica mais difícil a abertura aos venezuelanos de um caminho pela via democrática. Mas isso também é parte dos planos de Trump para a Venezuela, que de modo algum passa pela conciliação democrática entre os cidadãos daquele país.

 

Essa ideia de política externa de Donald Trump naturalmente influencia o destino do nosso país, que neste aspecto corre muito perigo com sua reeleição. Com um segundo mandato Trump adquire força política para uma intervenção na Venezuela, algo em que deve estar pensando há bastante tempo e só não colocou em prática pela falta de uma boa motivação.

 

É isso que o secretário Pompeu veio tentar criar aqui com suas provocações. Buscam reações do governo venezuelano que justifique uma forte retaliação. Como eu disse, por ora venceu o bom senso de Maduro, mas, sendo reeleito, Trump pode decidir pelo atropelamento de qualquer sensatez.

 

Caso conquiste mais um mandato, uma intervenção na Venezuela pode servir para desviar a atenção da opinião pública dos erros colossais de Trump nesta pandemia. O Brasil inevitavelmente estaria no meio dessa desastrosa encrenca internacional. E que ninguém pense que Bolsonaro não se anima com a possibilidade desse conflito. Ele também precisa arrumar algo para encobrir seus erros na pandemia e a indecente desonestidade praticada em família.

 

É provável inclusive que a possibilidade de um conflito internacional envolvendo o nosso país mexa com os recalques graves de seu fracasso pessoal como militar. Além disso, seria uma guerra contra o misterioso “Foro de São Paulo”, uma das poucas bandeiras que sobrou da sua campanha.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌


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