segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Conspiração que junta meio mundo

Mas para Veja, a predominância de uma frase sobre outra, até isso foi o resultado do trabalho da “máquina de propaganda marxista”. Uma bobagem sem tamanho. É preciso acreditar muito em conspirações permanentes para ver o sucesso de Guevara entre a classe média intelectualizada e parte da juventude como produto de uma “máquina marxista”, uma grande conspiração internacional de esquerda com a anuência, inclusive, de grandes corporações capitalistas e estrelas internacionais, incluindo a bunda de Gisele Bundchen, a barriga de Mike Tyson e a perna de Diego Maradona.

Che Guevara não ficou na história por esta ou aquela frase. Neste caso, por sinal, a frase que mais lhe é atribuída – a famosa “Hay que endurecer, pero sin perder la ternura” – nunca foi dita por ele. O que dá suporte ao mito é sua aura de heroísmo, o desapego ao poder e, muito importante, o fato de ter morrido relativamente jovem. O fracasso de suas investidas na África e na Bolívia são menos importantes do que a aventura em si, que é o que realmente dá solidez a qualquer mito.

Então Che Guevara era um covardão? Ah, conta outra. Mas, às vezes chego até a pensar que essa gente acredita mesmo nisso. E talvez isso explique por que eles se preocupam tanto com a imagem do guerrilheiro no biquíni de Gisele Bündchen. O Che no biquíni da modelo tem o mesmo significado político das serigrafias de Marilyn Monroe feitas por Andy Warhol. Ou seja: nenhum.
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POR José Pires

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