Chega a ser engraçado ver os papéis sendo invertidos na pauleira política entre blogs na internet. É também muito instrutivo, pois esta pauleira virtual nada mais é do que a face visível de tormentos da vida real em razão das novas divisões políticas criadas pela ambição por grana, status e melhor colocação no poder.
Falo do debate em que se engalfinham Diogo Mainardi, Reinaldo Azevedo, Luís Nassif, Paulo Henrique Amorim e um bom punhado de blogueiros, neste caso bastante estimulados pela corrente chapa-branca que vê em qualquer crítica ao governo Lula uma conspiração com todos seus pontos e articulações muito bem costurados por uma organização do mal.
O problema é que entrou no meio muita grana, com a anunciada compra da Brasil Telecom pela Telemar/Oi. É um negocião que divide o governo e, por extensão, sua base política na internet. Sim, pois além da base construída na área política, também na WEB o governo tem sua sustentação. É uma rede de blogs da militância petista que cobre todo o país. Muitos deles, a maioria talvez, são blogs pessoais, sem ligação direta com organismos partidários ou do governo, mas em sua maior parte municiados por sites, revistas e blogs que de um modo ou outro recebem favorecimento do governo Lula.
Porém, a venda da Brasil Telecom está sendo um problemão para a necessária unidade desses comunicadores favoráveis ao governo. Na oposição tudo está como antes. Reinaldo Azevedo, que foi um dos primeiros a apontar um dedo acusador, não mudou de lado. Muito menos Mainardi, jornalista com ótimas fontes também sobre este assunto. Mas a coisa mexeu com a cabeça dos chapa-brancas.
A reviravolta foi entre os blogueiros da internet que atuam na defesa do governo Lula. Para essa turma está sendo bem pesado o trauma da mudança de papéis forçada pelo escandaloso favorecimento da Telemar/Oi armado pelo governo Lula.
Foi um golpe nos hábitos cultivados na patrulha ideológica e no fanatismo. Para esta corrente de blogueiros informais do oficialismo teve ocasião em que até a menção ao mensalão praticado por dirigentes petistas já era tida como um favorecimento dos tucanos.
Mas agora a coisa mudou. Paulo Henrique Amorim é uma figura que simboliza bem como a mudança dos ventos forçou a um redirecionamento das porretadas dessa gente. Amorim era ídolo da turma. Tinha um blog no IG, provedor acertadamente definido por Diogo Mainardi como o centro dos blogs chapa-branca. O IG é propriedade da Brasil Telecom, um dos lados do negócio em vista. O estilo de Amorim era na base do preto ou branco, o bem e o mal. O bem, é claro, estava do lado dele.
Já que estamos falando de chapa-branca, façamos como o chefe deles. Vamos de imagem futebolística. Amorim atuava como zagueiro e também no ataque. Corria para defender o gol de Lula e também tentava balançar a rede tucana. E era um Serginho Chulapa nas duas posições. Batia firme em todos os que para ele faziam parte do que chamava "imprensa golpista". Golpe no Lula, é claro. Quando sentava no computador, ele dizia, era como se estivesse disparando mísseis.
Até recentemente o estilo do jornalista e blogueiro foi útil. Ele conta que foi contratado pelo IG exatamente pela sua história na internet de combate a Daniel Dantas. Acontece que agora Dantas não é mais adversário. Virou aliado e é parte interessada e influente na venda.
E por isso Amorim acabou sendo demitido do IG. Seu blog foi tirado abruptamente do ar tendo o provedor inclusive fechado qualquer acesso ao seu trabalho de dois anos. Só na justiça conseguiu de volta o material publicado no blog.
A venda da Brasil Telecom é muito suspeita. Para que ela ocorra é preciso que o presidente Lula altere a lei das telecomunicações, o que ele parece disposto a fazer isso. A fusão entre as duas empresas criaria um monopólio no setor. A monstruosidade econômica pode englolir 70% do potencial de consumo do setor de telecomunicações no Brasil e reduziria ainda mais a possibilidade de concorrência na telefonia fixa.
O negócio é apetitoso para os dois lados, menos para o contribuinte. O BNDES estaria no meio da compra servindo como financiador. O que se diz é que o único dinheiro que entraria é o do banco estatal. Ou seja: nós é que pagaríamos a conta.
Mas o problema de Amorim é outro. Na sua cabeça o maior beneficiado com a transação seria o empresário Daniel Dantas, vendeta antiga dele. Aí ele começou a escrever contra o negócio e por isso levou o bilhete azul. Ou um pé-na-bunda, expressão melhor, já que foi uma coisa violenta.
Com a refrega, Amorim acabou sendo abandonado pela corrente de defesa do governo Lula. Desavisados blogueiros chapa-branca inicialmente até esboçaram uma corrente de solidariedade, mas o impulso foi logo detido. Veio rápido o aviso de que Amorim não era mais da turma.
E essa mudança brusca também causou efeito em Amorim. Ele começou a ver defeitos no governo Lula. Retomou seu blog em página própria na internet e passou a, como ele diz, despachar mísseis também contra o governo. Na revista Fórum desse mês ele avança mais: disse que o governo Lula tem também seus “esqueletos no armário”. Não especificou a qualidade e quantidade da ossada, mas espera-se por mais revelações em "mísseis" posteriores.
Virada espetacular como essa não é novidade na carreira do jornalista. Ele já foi da TV Globo e depois passou a falar mal da emissora. E era severo crítico de Lula e do PT para depois tornar-se fã incondicional do governo Lula, até o rompimento de agora.
Mas o interessante nessa história é ver as mudanças de sentido que a política traz para a vida. Amorim saiu da dicotomia do Lula cá e os inimigos lá, o que não ocorre com a corrente blogueira chapa-branca. Por isso, Amorim saiu da galeria de ídolos − onde estava ao lado de gente como José Dirceu, Emir Sader, Franklin Martins, Luís Nassif e também Mino Carta, editor da Carta Capital, revista pró-Lula, e que também tinha um blog no IG. Carta, no entanto, está em grande risco de passar para a galeria de inimigos; no momento está na geladeira, até porque saiu do IG contrariado com a demissão de Amorim.
Viver requer paciência. O bom de ver o tempo passar é que a gente assiste com freqüência a realidade torcer o pescoço de teorias mal embasadas, usadas por má-fé ou ingenuidade. Esperemos um pouco mais, pois outras mudanças vêm por aí. Com a cristalização no governo Lula da política de usufruto das benesses do Estado ou proporcionadas por ele via negócios privados muita gente vai sendo expelida do bloco que usufrui dos privilégios. Neste tipo de política isso é destino: não tem teta para todo mundo.
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POR José Pires
Falo do debate em que se engalfinham Diogo Mainardi, Reinaldo Azevedo, Luís Nassif, Paulo Henrique Amorim e um bom punhado de blogueiros, neste caso bastante estimulados pela corrente chapa-branca que vê em qualquer crítica ao governo Lula uma conspiração com todos seus pontos e articulações muito bem costurados por uma organização do mal.
O problema é que entrou no meio muita grana, com a anunciada compra da Brasil Telecom pela Telemar/Oi. É um negocião que divide o governo e, por extensão, sua base política na internet. Sim, pois além da base construída na área política, também na WEB o governo tem sua sustentação. É uma rede de blogs da militância petista que cobre todo o país. Muitos deles, a maioria talvez, são blogs pessoais, sem ligação direta com organismos partidários ou do governo, mas em sua maior parte municiados por sites, revistas e blogs que de um modo ou outro recebem favorecimento do governo Lula.
Porém, a venda da Brasil Telecom está sendo um problemão para a necessária unidade desses comunicadores favoráveis ao governo. Na oposição tudo está como antes. Reinaldo Azevedo, que foi um dos primeiros a apontar um dedo acusador, não mudou de lado. Muito menos Mainardi, jornalista com ótimas fontes também sobre este assunto. Mas a coisa mexeu com a cabeça dos chapa-brancas.
A reviravolta foi entre os blogueiros da internet que atuam na defesa do governo Lula. Para essa turma está sendo bem pesado o trauma da mudança de papéis forçada pelo escandaloso favorecimento da Telemar/Oi armado pelo governo Lula.
Foi um golpe nos hábitos cultivados na patrulha ideológica e no fanatismo. Para esta corrente de blogueiros informais do oficialismo teve ocasião em que até a menção ao mensalão praticado por dirigentes petistas já era tida como um favorecimento dos tucanos.
Mas agora a coisa mudou. Paulo Henrique Amorim é uma figura que simboliza bem como a mudança dos ventos forçou a um redirecionamento das porretadas dessa gente. Amorim era ídolo da turma. Tinha um blog no IG, provedor acertadamente definido por Diogo Mainardi como o centro dos blogs chapa-branca. O IG é propriedade da Brasil Telecom, um dos lados do negócio em vista. O estilo de Amorim era na base do preto ou branco, o bem e o mal. O bem, é claro, estava do lado dele.
Já que estamos falando de chapa-branca, façamos como o chefe deles. Vamos de imagem futebolística. Amorim atuava como zagueiro e também no ataque. Corria para defender o gol de Lula e também tentava balançar a rede tucana. E era um Serginho Chulapa nas duas posições. Batia firme em todos os que para ele faziam parte do que chamava "imprensa golpista". Golpe no Lula, é claro. Quando sentava no computador, ele dizia, era como se estivesse disparando mísseis.
Até recentemente o estilo do jornalista e blogueiro foi útil. Ele conta que foi contratado pelo IG exatamente pela sua história na internet de combate a Daniel Dantas. Acontece que agora Dantas não é mais adversário. Virou aliado e é parte interessada e influente na venda.
E por isso Amorim acabou sendo demitido do IG. Seu blog foi tirado abruptamente do ar tendo o provedor inclusive fechado qualquer acesso ao seu trabalho de dois anos. Só na justiça conseguiu de volta o material publicado no blog.
A venda da Brasil Telecom é muito suspeita. Para que ela ocorra é preciso que o presidente Lula altere a lei das telecomunicações, o que ele parece disposto a fazer isso. A fusão entre as duas empresas criaria um monopólio no setor. A monstruosidade econômica pode englolir 70% do potencial de consumo do setor de telecomunicações no Brasil e reduziria ainda mais a possibilidade de concorrência na telefonia fixa.
O negócio é apetitoso para os dois lados, menos para o contribuinte. O BNDES estaria no meio da compra servindo como financiador. O que se diz é que o único dinheiro que entraria é o do banco estatal. Ou seja: nós é que pagaríamos a conta.
Mas o problema de Amorim é outro. Na sua cabeça o maior beneficiado com a transação seria o empresário Daniel Dantas, vendeta antiga dele. Aí ele começou a escrever contra o negócio e por isso levou o bilhete azul. Ou um pé-na-bunda, expressão melhor, já que foi uma coisa violenta.
Com a refrega, Amorim acabou sendo abandonado pela corrente de defesa do governo Lula. Desavisados blogueiros chapa-branca inicialmente até esboçaram uma corrente de solidariedade, mas o impulso foi logo detido. Veio rápido o aviso de que Amorim não era mais da turma.
E essa mudança brusca também causou efeito em Amorim. Ele começou a ver defeitos no governo Lula. Retomou seu blog em página própria na internet e passou a, como ele diz, despachar mísseis também contra o governo. Na revista Fórum desse mês ele avança mais: disse que o governo Lula tem também seus “esqueletos no armário”. Não especificou a qualidade e quantidade da ossada, mas espera-se por mais revelações em "mísseis" posteriores.
Virada espetacular como essa não é novidade na carreira do jornalista. Ele já foi da TV Globo e depois passou a falar mal da emissora. E era severo crítico de Lula e do PT para depois tornar-se fã incondicional do governo Lula, até o rompimento de agora.
Mas o interessante nessa história é ver as mudanças de sentido que a política traz para a vida. Amorim saiu da dicotomia do Lula cá e os inimigos lá, o que não ocorre com a corrente blogueira chapa-branca. Por isso, Amorim saiu da galeria de ídolos − onde estava ao lado de gente como José Dirceu, Emir Sader, Franklin Martins, Luís Nassif e também Mino Carta, editor da Carta Capital, revista pró-Lula, e que também tinha um blog no IG. Carta, no entanto, está em grande risco de passar para a galeria de inimigos; no momento está na geladeira, até porque saiu do IG contrariado com a demissão de Amorim.
Viver requer paciência. O bom de ver o tempo passar é que a gente assiste com freqüência a realidade torcer o pescoço de teorias mal embasadas, usadas por má-fé ou ingenuidade. Esperemos um pouco mais, pois outras mudanças vêm por aí. Com a cristalização no governo Lula da política de usufruto das benesses do Estado ou proporcionadas por ele via negócios privados muita gente vai sendo expelida do bloco que usufrui dos privilégios. Neste tipo de política isso é destino: não tem teta para todo mundo.
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POR José Pires
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