quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

O mundo preocupado com um, veio o outro e crau


De sonso Bernard Madoff só tem a cara. O mundo andou esse tempo todo preocupado com Osama Bin Laden. Pois foi alguém de dentro que deu um grande golpe no capitalismo ocidental.

Bernard Madoff fez uma limpa no mercado. Sua gigantesca fraude, de 50 bilhões de dólares, funciona como uma “pirâmide”, dessas que qualquer estelionatário de esquina faz. Mas apesar de ser do ramo do 171, Madoff é profissional de alto gabarito, cevado durante anos no mercado financeiro global.

O fundo gerenciado por ele pagava juros anuais de cerca de 10% usando o dinheiro de novos investidores para pagar os antigos. O interessante é que Madoff já foi presidente da Nasdaq, a poderosa bolsa eletrônica onde são negociadas até 6 bilhões de ações em apenas um dia. Ou seja, lá enganava os trouxas dentro da lei.

Outro fato interessante é que o SEC (Security and Exchanges Comission), organismo americano que regula o funcionamento das Bolsas americanas, deixou passar a fraude durante anos, já que o presidente do órgão admitiu que desde 1999 recebem denúncias do caso. Hmmm, e o SEC já consegue separar joio e trigo em um mercado que negocia mais joio do que trigo?

Tem várias simbologias neste logro. Os nomes das personalidades e instituições que caíram na lábia de Madoff mostra bem como o logro do mercado financeiro atingiu tal ponto que fica cada vez mais difícil identificar o verdadeiro do falso, já que ambos não tem nenhuma sustentação na realidade. Ou o logro de Madoff sofre condenação apenas porque é jogatina sem o aval do mercado?

Até o cineasta Steven Spielberg caiu na lorota. A fundação do prêmio Nobel de 1986, Elie Wiesel, também teve prejuízo: perdeu 37 milhões de dólares. Menos mal que Wiesel seja Nobel da Paz e não de Economia.

Mas a lista é grande, com pesos-pesados da área financeira internacional. O banco espanhol Santander perdeu US$ 3,1 bilhões. O BBVA, também da Espanha, US$ 404 milhões. O britânico HSBC perdeu US$ 1 bilhão. E o banco suíço Union Bancaire Privée, US$ 1,08 bilhão. Vejam que não tem neófito na jogatina. Duvido que alguém tenha perdido grana de boa fé.

E também não duvido que tentem recuperar o que perderam, não por lá nos Estados Unidos, claro, pois as autoridades parece que acordaram para o problema, mas por aqui, onde sempre se dá um jeitinho do Estado financiar recuperação de perda de graúdos. Alguns desses grandes bancos têm filiais por aqui. Não é difícil que ainda vejamos o governo brasileiro compensando também os rombos do golpe de Madoff.

E também teve graúdo daqui que levou rasteira. A perda de brasileiros na negociata chega até 2 bilhões de dólares, mas até agora a imprensa não identificou nenhum deles. Como costuma acontecer no Brasil, está todo mundo caladinho.

Mesmo porque não duvido que já haja entre os patos locais gente pensando em recuperar o que perdeu neste caso com idéias bem malvadas, mas facilmente aceitáveis para nossa classe política, como a de cortar direitos trabalhistas daqueles que nada tem a ver com os Madoff da vida, mas sim com o trabalho pesado.
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POR José Pires

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