quarta-feira, 16 de junho de 2010

Gaspari na marcação

Imagens de futebol aplicadas à linguagem da política não funcionam. Simplificam demais um assunto que, por mais que os políticos tentem puxar para o nível da sarjeta mental, exige raciocínio mais elevado. A política também não permite vitórias devidas à casualidades, como acontece com freqüência no futebol. Na política não tem morrinho na área. E, cá pra nós, para alcançar o morrinho na área, a bola tem que ser tocada pelo jogador o campo inteiro. E isso exige muita técnica.

Quem gosta de colocar o futebol na política, como uma simplificação do discurso é o presidente Lula. Mas isso faz parte de um jogo muito bem calculado. Porém, jornalistas deveriam evitar este artifício, mesmo que seja em tom de piada. Seria bom evitar também o uso excessivo de termos futebolísticos só porque estamos em período de Copa do Mundo. Muitos fazem isso, também vou fazer agora, mas prometo que é só neste post.

Talvez animado pelas vuvuzelas, Elio Gaspari resolveu se fazer de Lula hoje em sua coluna. E não foi como piada. É uma análise séria, pretensiosa. Pretendeu abarcar todo o desenvolvimento desta eleição até o momento. Gaspari tem dado seus chutões nesta eleição, mas desta vez foi de bico e de uma forma muito feia.

De início, cometeu uma falta que merece expulsão: esqueceu Marina Silva. Nem toca em seu nome. Não sei se Gaspari está no Brasil, mas mesmo que esteja fora, isso não é desculpa. Qualquer análise desta eleição que exclua Marina Silva não faz sentido algum.

Primeiro porque se guia por um quadro criado pelos institutos de pesquisa, que não são confiáveis como instituição e, mesmo que fossem, hoje não existe instrumento capaz de dar uma referência do que pensa o eleitorado brasileiro.

E depois, mesmo que o quadro atual seja mesmo este que os institutos de pesquisa divulgam, muita coisa vai mudar quando a eleição estiver de fato em pauta. E aí, Marina Silva fará a diferença. A única dúvida é se o prejuízo maior será de Serra ou de Dilma Rousseff.

Não vou abarcar aqui toda a análise feita por Gaspari em sua coluna. Ele é aquele tipo de jornalista que se encanta muito com a suposta habilidade com as palavras e, por vezes demais também, se ocupa mais com elas do que com o conteúdo. Não é à toa que a revista Veja tenha ele como um dos criadores de seu estilo.

Gaspari tem um problema antigo com os tucanos e com Serra também. Então, em qualquer jogo que tenha o Serra, em seus comentários ele sempre vai implicar com o estilo do tucano, mesmo que o adversário seja um perna de pau da política como Dilma.

E vou ficar só neste ponto, para provar que Gaspari mais uma vez tentou marcar um golaço e deu um chutão de pelada. Num trecho, Gaspari escreve o seguinte: “José Serra chegou ao jogo com a popularidade de Neymar e, em poucas semanas, passou a comandar uma campanha interessada em cavar faltas”.

O presidente Lula (meu nome é Dilma!) faz campanha ilegal desde o início do segundo mandato, usa a máquina pública de forma abusiva e desavergonhada, utilizou a mesma a máquina para brecar outras candidatura e até esmagar a de seu aliado Ciro Gomes, ainda fazem dossiês contra a candidatura tucana e... é o Serra que comanda “uma campanha interessada em cavar faltas”.

Acho que não é só o Galvão Bueno que precisa calar a boca, não é mesmo Gaspari?
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POR José Pires

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