quarta-feira, 2 de junho de 2010

Os teóricos da chatice e do autoritarismo

Stone esteve no Brasil para divulgar o documentário "Ao Sul da Fronteira", um apanhado de entrevistas com alguns presidentes latinoamericanos. São ouvidos, em conversas informais com com o cineasta, os presidentes Lula (Brasil), Cristina Kirchner e seu marido ex-presidente Nestor Kirchner (Argentina), Hugo Chávez (Venezuela), Evo Morales (Bolívia), Fernando Lugo (Paraguai), Rafael Correa (Equador) e Raul Castro (Cuba).

É marcante a ausência de alguns nomes importantes nesta lista, como Michelle Bachelet, que foi presidente do Chile até março passado, e Alan Garcia, do Peru. Mas é que esses presidentes destruiriam a teoria perseguida pelo cineasta norte-americano, de que a América Latina vive um processo revolucionário encarnado pelos nomes que estão em seu filme.

Falta também Fernando Lugo, mas o presidente do Paraguai teve um brilho fugaz nesta constelação eleita por Stone. A princípio foi tratado como um dos revolucionários da hora, mas foi rapidamente proscrito.

Dificilmente verei um filme desses, apesar de que tenho feito esforços consideráveis para informar bem os leitores deste blog. Mas já dá para ter um idéia do conteúdo da obra pelas atitudes de Stone no Brasil e também pelos elogios de um de seus entrevistados e seu ídolo máximo, o presidente venezuelano Hugo Chávez.

“Oliver compreendeu muito bem que na América Latina se está forjando uma revolução.
Seu documentário é um tributo à América Latina, que está lutando para unir-se e forjar seu próprio destino”, disse Chávez.

É interessante a intimidade de Chávez, tratando o autor como “Oliver”. É um tom que caracteriza ainda mais esta fala como uma boa definição da qualidade da do trabalho de Stone.

O filme deve ser uma porcaria. E nem falo isso pelo que penso das personalidades que dão base ao documentário. É uma questão técnica. É impossível fazer algo de qualidade com esta falta de senso crítico demonstrada por Stone. Mesmo na ficção exige-se algum distanciamento para que saia algo bom. Num documentário é preciso ainda mais capacidade de avaliar com relativa imparcialidade o tema escolhido. No jornalismo é preciso até ser cético para obter alguma coisa de qualidade.

E como Stone parte sempre de um ponto de vista propagandístico, duvido que tenha produzido um bom documentário. Com sua visão de militante, tudo o que realmente importa terá passado desapercebido.

Nisso ele é parecido com Michael Moore, um diretor que exige que a realidade se acomode ao que ele pretende políticamente. Não à tôa, é com a mesma leviandade que os dois dão apoio à causas políticas e grupos de paíse estrangeiros metidos em complexas situações políticas. São dois tiranos. Até o que já aconteceu tem que ser como eles querem.

Stone age como a militância que conhecemos bem por aqui. Eles tem uma visão que deve ser combatida, pelo dirigismo autoritário que prejudica todo trabalho intelectual ou de arte e que tenta determinar até mesmo o cotidiano das pessoas.

Esse pessoal é perigoso. São também muito chatos. Sua meta é abolir qualquer coisa que venha a descompor a teoria pré-montada do enredo que eles pretendem impor, seja em um filme ou na política.

Em filmes, a obra acaba ficando chata demais. Com a bajulação política, perdem até bons temas, como foi o caso da biografia de Lula, um político com uma história de vida sem dúvida muito interessante, mas que foi transformada numa porcaria de filme propagandístico. No final, a obra foi um fiasco até como propaganda.

E no caso da vida, esta mesma atitude transforma o cotidiano numa coisa chata, isso quando a destruição não avança para o pior, como já se viu em vários países onde essa mentalidade tomou o poder.
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POR José Pires

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